A impermanência é tramada. Está tudo bem e, de repente, está tudo mal, ou, pelo menos, parece tudo mal. Sim é isso. Parece tudo mal porque na verdade não está nada tudo mal. Está é tudo diferente daquilo que nós pensávamos que ia acontecer e temos - mesmo - dificuldade em adaptar-nos às novas circunstâncias e é por isso que parece tudo mal, mesmo quando objectivamente não está tudo mal e está tudo bem na mesma, só que diferente do que imagináramos.
Passamos uma vida inteira feita de momentos a pensar que podemos controlar os acontecimentos, mas isso não é verdade, pelo contrário, é bem mentira, mentira redonda, daquelas que se vêem a léguas e não enganam, tal como o algodão. Agarramo-nos com unhas e dentes ao que conhecemos e ao que presumimos que podemos conhecer porque, na nossa inocência, irá de certeza acontecer num futuro mais ou menos próximo.
Balelas. Mentira. Engano. Logro.
Vamos mas é viver o que a vida nos oferece, bom ou mau, macio ou rugoso, leve ou pesado. Não significa que nos conformamos, mas sim que aceitamos os limites da vida tal como ela é.
Percebo que choque e nem sequer é meu timbre revelar aspectos da minha vida privada, mas quando em plenas férias um filho, ao lutar contra as ondas e sem saber como, rompe (literalmente) o prepúcio, tendo que levar três pontos no dito numa urgência do Barlavento algarvio e lixa literalmente o resto das férias ao pai e aos irmãos (e a mais quem seja), isso não é senão uma manifestação evidente da impermanência da vida e uma demonstração de que não controlamos um pêlo.
Já antevia os próximos dias de uma maneira fabulosa, com grandes dias de praia, pôres-do-sol atrás de pôres-do-sol, acompanhados daquele cansaço de felicidade e bem-estar que caracteriza quem está bem como está e com o que fez.
Népia disso...
Oiço Dead Combo e eles estão ali.... a brincar. Como se o dia de hoje fosse exactamente igual ao de ontem e ao de anteontem. Com uma inocência e inteligência próprias de quem não tem a veleidade de achar que controla a vida.
Aprendamos com quem sabe mas é.
24.8.13
16.8.13
14.8.13
Deamblogações matinais
You do not have to be good.
You do not have to walk on your knees
for a hundred miles through the desert, repenting.
You only have to let the soft animal of your body
love what it loves.
Tell me about despair, yours, and I will tell you mine.
Meanwhile the world goes on.
Meanwhile the sun and the clear pebbles of the rain
are moving across the landscapes,
over the prairies and the deep trees,
the mountains and the rivers.
Meanwhile the wild geese, high in the clean blue air,
are heading home again.
Whoever you are, no matter how lonely,
the world offers itself to your imagination,
calling to you like the wild geese, harsh and exciting
over and over announcing your place in the family of things.
Mary Oliver
You do not have to walk on your knees
for a hundred miles through the desert, repenting.
You only have to let the soft animal of your body
love what it loves.
Tell me about despair, yours, and I will tell you mine.
Meanwhile the world goes on.
Meanwhile the sun and the clear pebbles of the rain
are moving across the landscapes,
over the prairies and the deep trees,
the mountains and the rivers.
Meanwhile the wild geese, high in the clean blue air,
are heading home again.
Whoever you are, no matter how lonely,
the world offers itself to your imagination,
calling to you like the wild geese, harsh and exciting
over and over announcing your place in the family of things.
Mary Oliver
12.8.13
Deamblogações vespertinas
Como jurista e a confirmar-se a notícia de que o Governo anda a enviar aos funcionários públicos cartas a propôr-lhes a revogação por acordo dos seus contratos de trabalho, pergunto-me se isso será legal ou mais uma trapalhada que trará ainda mais confusão, desacerto e revolta a um dos principais (conjuntamente com os reformados) grupos-alvo do Governo.
Para seguir com atenção.
Para seguir com atenção.
Etiquetas:
Administração Pública,
contratos de trabalho,
reforma
Deamblogações matinais
Numa altura em que as pessoas estão cansadas, exaustas, perdidas, sem esperança e desiludidas, o Governo vem apresentar um corte de 10% nas pensões superiores a € 600,00. Porém, como dizia Marcelo RS ontem, "esqueceu-se" de dizer se igual corte (ou sequer se algum corte...) vai ou não feito nas pensões vitalícias dos políticos.
Ora, isto, para além de inexplicável do ponto de vista da justiça relativa e da equidade, revela, no mínimo, falta de bom senso (mais uma vez), se é que não também verdadeira incompetência e até má fé.
Estou convencido de que poucas coisas contribuirão para agastar mais o Governo do que medidas desta natureza, sobretudo quando acompanhadas da percepção por todos de que existem classes diferenciadas, protegidas, enfim, superiores que não são afectadas.
A confirmar-se, é um ultraje.
Ora, isto, para além de inexplicável do ponto de vista da justiça relativa e da equidade, revela, no mínimo, falta de bom senso (mais uma vez), se é que não também verdadeira incompetência e até má fé.
Estou convencido de que poucas coisas contribuirão para agastar mais o Governo do que medidas desta natureza, sobretudo quando acompanhadas da percepção por todos de que existem classes diferenciadas, protegidas, enfim, superiores que não são afectadas.
A confirmar-se, é um ultraje.
7.8.13
De carta de demissão em carta de demissão até à demissão final
O ex-ministro Gaspar inaugurou uma nova moda por quem anda pelos afazeres governativos: a da publicitação de uma carta de demissão, na qual o membro do Governo demissionário transmite ao povo e a quem estiver interessado (muito pouca gente, suspeito eu) os motivos da saída. Ele foi o primeiro, depois veio Portas e agora Pais Jorge. Nos tempos antigos ainda se davam conferências de imprensa (v.g. Relvas) ou, o que era melhor e mais sensato, não se tomava qualquer atitude pública, ficando os motivos entre o demissionário e a sua tutela. Agora, o ritmo de demissões é tão grande que não há tempo (nem pachorra) para conferências de imprensa e, convenhamos, a discrição é uma virtude desconhecida e em vias de extinção. Vai lá de cartinha que é para, sem direito a contraditório nem a incómodos de perguntas jornalísticas que não interessam, ficar para a posteridade aquilo que tem a dizer-se, não sem que antes de metam umas farpas aqui e acolá. Isto em Direito tem o nome pomposo de declarações unilaterais não receptícias: são produzidas por alguém e não necessitam de ser recebidas pelo(s) seu(s) destinatário(s) para produzirem efeitos. A benefício de quem as faz, naturalmente.
Eu acho que isto tudo dava uma comédia de grandeza cósmica, não fosse ter efeitos directos em nós todos. Sinceramente, espanta-me como este conjunto de incompetentes ainda está em funções. Pior do que eles, só a oposição.
Eu acho que isto tudo dava uma comédia de grandeza cósmica, não fosse ter efeitos directos em nós todos. Sinceramente, espanta-me como este conjunto de incompetentes ainda está em funções. Pior do que eles, só a oposição.
Etiquetas:
crise,
demissões,
Governo,
país,
Pais Jorge,
Paulo Portas,
Vítor Gaspar
6.8.13
Nas costas dos outros vejo eu as minhas
Isto é absolutamente indecoroso, uma total falta de lealdade institucional, um amadorismo, uma falta de elevação e de respeito.
Não está em causa a postura do secretário de Estado Pais Jorge, a qual é obviamente lamentável. Está sim a forma como se tratam as pessoas neste conjunto de amadores que compõem o Governo (que Governo?...). O secretário de Estado Pedro Lomba queimou pura e simplesmente o seu colega, eliminando quaisquer hipóteses que tinha de se manter em funções. Ainda bem, dir-se-á. Não. Ainda bem quanto ao resultado, mas ainda mal, muito mal, quanto à forma. Quem devia fazê-lo era o primeiro-ministro no recato de um gabinete e nunca um par numa conferência de imprensa diária e sem objecto específico.
Isto é mesmo mau de mais para ser verdade. Mesmo, mesmo.
Não está em causa a postura do secretário de Estado Pais Jorge, a qual é obviamente lamentável. Está sim a forma como se tratam as pessoas neste conjunto de amadores que compõem o Governo (que Governo?...). O secretário de Estado Pedro Lomba queimou pura e simplesmente o seu colega, eliminando quaisquer hipóteses que tinha de se manter em funções. Ainda bem, dir-se-á. Não. Ainda bem quanto ao resultado, mas ainda mal, muito mal, quanto à forma. Quem devia fazê-lo era o primeiro-ministro no recato de um gabinete e nunca um par numa conferência de imprensa diária e sem objecto específico.
Isto é mesmo mau de mais para ser verdade. Mesmo, mesmo.
Deamblogações matinais
Confesso a minha completa desatenção à polémica que a frase de uma Espírito Santo provocou, certamente de modo devido, dada a natureza da mesma por contraste com a turbulência social que o país está a atravessar. Mas parece que aquilo é um mal de família. Ao procurar mais sobre o tema, deparei-me com a seguinte frase do patriarca Ricardo ao dizer que não conseguia desligar em férias: "Temos muitos amigos que estão a passar dificuldades e, por isso, temos de estar sempre disponíveis".
Há que dizer que os amigos de Ricardo Salgado não são propriamente a malta ali do Barreiro que está desempregada e que vive mesmo mal. É, pelo contrário, gente afortunada e ainda bem para eles. Ora, eu sei (melhor, não sei, mas imagino que assim seja) que perder milhões de euros em negócios que não correram bem por causa da crise é grave e afecta muito quem com isso ficou prejudicado. Mas, convenhamos, que é melhor perder milhões e manter alguns, ainda que poucos, do que perder centenas e não guardar nada.
É, mais uma vez, a falta de bom senso. O pior vírus que para aí anda...
Há que dizer que os amigos de Ricardo Salgado não são propriamente a malta ali do Barreiro que está desempregada e que vive mesmo mal. É, pelo contrário, gente afortunada e ainda bem para eles. Ora, eu sei (melhor, não sei, mas imagino que assim seja) que perder milhões de euros em negócios que não correram bem por causa da crise é grave e afecta muito quem com isso ficou prejudicado. Mas, convenhamos, que é melhor perder milhões e manter alguns, ainda que poucos, do que perder centenas e não guardar nada.
É, mais uma vez, a falta de bom senso. O pior vírus que para aí anda...
4.8.13
A consciência da irrelevância
Há dias ouvi o pediatra Mário Cordeiro, numa entrevista, perguntar, em tom de reflexão, se daqui a 4000 anos alguém ia saber quem foi o Picasso. Quem diz Picasso diz verdadeiramente toda a gente que nós reputamos de "imortais". Dizia ele também que lhe fazia um bocado de impressão que a longevidade média dos homens fosse inferior à de uma mera lata de atum, que parece que é de 90 anos. Isto para reforçar que andamos para aqui a pensar que a nossa obra é extraordinária e perene, tanto quanto possível, quando, na verdade, ela - se existir - é pouco relevante na régua da história da humanidade.
Nesse sentido, a única verdadeira coisa que mata, por assim dizer, essa finitude é a capacidade de gerar filhos, porque essa é a única forma de garantir a perenidade dos genes, o que é uma indiscutível vitória sobre a morte.
Isto veio para mim ao encontro de uma reflexão que tinha feito dias antes sobre a necessidade absoluta de termos a humildade consciente como um dos padrões regulatorórios das nossas vidas. Há para aí muito deslumbre. Muito mesmo. E isso contagia-nos ainda que achemos que não.
Nesse sentido, a única verdadeira coisa que mata, por assim dizer, essa finitude é a capacidade de gerar filhos, porque essa é a única forma de garantir a perenidade dos genes, o que é uma indiscutível vitória sobre a morte.
Isto veio para mim ao encontro de uma reflexão que tinha feito dias antes sobre a necessidade absoluta de termos a humildade consciente como um dos padrões regulatorórios das nossas vidas. Há para aí muito deslumbre. Muito mesmo. E isso contagia-nos ainda que achemos que não.
Subscrever:
Mensagens (Atom)