4.8.13

A consciência da irrelevância

Há dias ouvi o pediatra Mário Cordeiro, numa entrevista, perguntar, em tom de reflexão, se daqui a 4000 anos alguém ia saber quem foi o Picasso. Quem diz Picasso diz verdadeiramente toda a gente que nós reputamos de "imortais". Dizia ele também que lhe fazia um bocado de impressão que a longevidade média dos homens fosse inferior à de uma mera lata de atum, que parece que é de 90 anos. Isto para reforçar que andamos para aqui a pensar que a nossa obra é extraordinária e perene, tanto quanto possível, quando, na verdade, ela - se existir - é pouco relevante na régua da história da humanidade.
Nesse sentido, a única verdadeira coisa que mata, por assim dizer, essa finitude é a capacidade de gerar filhos, porque essa é a única forma de garantir a perenidade dos genes, o que é uma indiscutível vitória sobre a morte.
Isto veio para mim ao encontro de uma reflexão que tinha feito dias antes sobre a necessidade absoluta de termos a humildade consciente como um dos padrões regulatorórios das nossas vidas. Há para aí muito deslumbre. Muito mesmo. E isso contagia-nos ainda que achemos que não.