O ex-ministro Gaspar inaugurou uma nova moda por quem anda pelos afazeres governativos: a da publicitação de uma carta de demissão, na qual o membro do Governo demissionário transmite ao povo e a quem estiver interessado (muito pouca gente, suspeito eu) os motivos da saída. Ele foi o primeiro, depois veio Portas e agora Pais Jorge. Nos tempos antigos ainda se davam conferências de imprensa (v.g. Relvas) ou, o que era melhor e mais sensato, não se tomava qualquer atitude pública, ficando os motivos entre o demissionário e a sua tutela. Agora, o ritmo de demissões é tão grande que não há tempo (nem pachorra) para conferências de imprensa e, convenhamos, a discrição é uma virtude desconhecida e em vias de extinção. Vai lá de cartinha que é para, sem direito a contraditório nem a incómodos de perguntas jornalísticas que não interessam, ficar para a posteridade aquilo que tem a dizer-se, não sem que antes de metam umas farpas aqui e acolá. Isto em Direito tem o nome pomposo de declarações unilaterais não receptícias: são produzidas por alguém e não necessitam de ser recebidas pelo(s) seu(s) destinatário(s) para produzirem efeitos. A benefício de quem as faz, naturalmente.
Eu acho que isto tudo dava uma comédia de grandeza cósmica, não fosse ter efeitos directos em nós todos. Sinceramente, espanta-me como este conjunto de incompetentes ainda está em funções. Pior do que eles, só a oposição.
7.8.13
De carta de demissão em carta de demissão até à demissão final
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