11.9.14

Deamblogações vespertinas

Não terá sido um acaso Obama ter anunciado que ia esmagar (sic) o EI na véspera do 13.º aniversário do 11 de Setembro. Mas todos nós já vimos anúncios destes sem que os resultados correspondam às (enormes) expectativas que geraram. O Iraque e a intervenção naquela zona do mundo é o exemplo mais recente e paradigmático disto que digo. Demais a mais, Obama anunciou que iria fazê-lo sem ser necessário levar cem mil soldados (sic) para o terreno, o que penso que foi um eufemismo para dizer que não está mesmo a pensar em mandar um só soldado, mas apenas pessoal técnico de apoio.
O EI não é bem o Iraque e também não é bem a Síria. O EI é um estado sem estado que, embora se concentre mais na cidade de Raqqa, se encontra disperso por grande parte da Síria, Iraque e zonas adjacentes. Não basta, pois, chegar lá com meios aéreos e descarregar bombas para aniquilar os mudjahiddins. Isso seria porventura o que Obama gostaria, mas não é infelizmente assim. O EI, para além de estar muito espalhado no terreno e não ter um quartel-general, tem literalmente reféns milhares de pessoas que não hesitaria um mícron em usar como escudo humano. Se Obama não quiser ficar na história como o autor de um plano de mortandade civil em larga escala, não pode pretender resolver a coisa pelo ar.
O que, na verdade, não deixa muitas hipóteses porque também não é com conselheiros técnicos no terreno (que, basicamente, apoiam as chefias militares locais) que se erradica o movimento. Não é, igualmente, o facto de o exército iraquiano contar com 200 mil militares, a que acrescerão os militares sírios, que faz com que a vitória esteja garantida. Aliás, viu-se o que fizeram esses mesmos militares quando se viram apertados pelos rebeldes do EI: fugiram a sete pés, deixando equipamento e víveres à mercê do inimigo.
O movimento tem criado uma influência na zona muitíssimo difícil de estancar: pavor, coacção, tortura, controlo, mortes, exibição de cadáveres, execuções públicas é tudo parte do que EI faz por ali com um efeito muito concreto nas populações a ele submetidas. Há um halo de medo e angústia por aqueles lados que contribui em muito para o controlo pelo EI e é precisamente isso que os seus responsáveis queriam. Para além dos convertidos, mesmo quem está contra passa a estar a favor porque sabe que senão é com a própria vida que paga esse desafio.
É, pois, por isso que estou a ver mal que os EUA anunciem com alguma inocência (mais do que arrogância) que "esmagarão" o EI sem enviarem tropas para o terreno. O EI é muito, muito diferente de tudo o que já se combateu e parece que o presidente americano não percebeu ainda isso.