Digo de cor, mas acho que o Brasil é o maior país católico do mundo. Com mais fiéis em números relativos e absolutos.
Por isso me espantei por segundos quando, a par de milhares de pessoas nas ruas para celebrar a visita do Papa, vi manifestações contra essa mesma visita, algumas delas com necessidade de violência por parte da polícia.
É de todos conhecida a paixão dos brasileiros. Sempre ouvi, vi e assisti in loco a essa paixão, demonstrada essencialmente pelo futebol e pelo Carnaval: é indiferente o estado do país, se há ou não corrupção, se no dia seguinte há dinheiro para pão, mas em jogo do escrete não se toca, assim como não se toca em nenhum dia daquela semana mágica. Depois, quando vier a ressaca, logo se vê.
Foi sempre assim. Foi, mas parece que já não é. O povo brasileiro parece estar a renunciar ao seu ADN e a aproveitar situações históricas que, no passado, serviriam para comemorar bem ao seu estilo, para se fazerem ouvir, muitas vezes com violência e estragos.
Se em cima disso tivermos em conta que as visitas do Papa, seja ele qual for, são na sua esmagadora maioria acompanhadas de euforia e simpatia na recepção - e não de protestos, muito menos violentos - fica-se com a certeza de que alguma coisa grave se passa actualmente na sociedade brasileira.
Dilma devia reflectir nisto e devia parar para pensar. Sem o suporte do povo, ela e o PT (até mais do que um qualquer partido mais à direita) não se aguentam. Mas não se trata sequer de salvar a pele ao Governo, trata-se de reflectir sobre a razão dos protestos, sobre o mal-estar que começa a voltar a ver-se e sentir-se na sociedade brasileira.
Lá como cá - só que em escala muito maior - os erros são os mesmos. Dá-se ao povo o que ele não quer, e retira-se-lhe o que lhe é fundamental para viver. Para sobreviver. Assim não dá e vai rebentar, é só uma questão de tempo.