24.6.16

O mundo ao contrário ou a miopia de quem vê o que não quer



A imagem está longe de ser bonita e aprazível, mas traduz muito bem o meu estado de espírito presente: o mundo ao contrário ou, melhor, as coisas do mundo ao contrário do que deviam estar.
Parece-me que são coisas a mais e, com mais este acontecimento de hoje, tenho a certeza de que vivemos tempos históricos, para o bem ou para o mal, não sabemos, que vão mudar definitivamente o mundo tal como o conhecemos, pelo menos para quem, como eu, nasceu em época de paz e democracia.
Senão veja-se: eleições americanas com os Republicanos reféns de um mentecapto milionário, maior crise recente no Brasil, crise sem precedentes na Venezuela (liderada por outro mentecapto que devia estar preso há muito), guerra na Síria e em toda aquela região, recrudescimento dos nacionalismos um pouco por todos os países europeus (RU, França, Holanda, Finlândia, Dinamarca, Polónia, Áustria, Hungria, balcãs) e pelos países na fronteira europeia (Rússia, Bielorússia, Turquia), crise dos refugiados na Europa, atentados do ISIL, tensão terrorista permanente, Hollande e Vals sem qualquer músculo no braço-de-ferro com os sindicatos (que vão ganhar a prazo), Le Pen a subir (o FN tomará o poder através do chefe de Estado mais depressa do que se julga), crise do Governo em Espanha que só muito dificilmente terminará este fds e, como se já tudo isto não bastasse, saída do RU da UE.
É, pura e simplesmente, mau de mais. Nem referi a crise da banca, dos défices e das mudanças nos paradigmas da vida em sociedade (família, trabalho) como a conhecemos até hoje.

Quanto ao Brexit, Cameron foi um irresponsável a toda a prova ao ter prometido referendar uma matéria demasiado sensível para ser referendada, sobretudo no actual momento da história do mundo. Ele é o principal obreiro da saída do RU da UE, mesmo que se tenha empenhado em evitar a derrora, o que aconteceu tarde de mais conforme se viu. Para além dele, outro responsável (embora menos) é Corbyn para quem parece que tudo isto passou literalmente ao lado e que dava hoje uma entrevista à Sky News às 7 da manhã como se o que tivesse sucedido fosse coisa pouca e de nenhuma importância.

Enfim, não foi apenas o RU que votou sair da UE, foi o RU que votou desintegrar-se como Estado. É que virá mais cedo do que tarde um novo referendo na Escócia (no qual a saída do RU ganhará confortavelmente), depois disso mais um em Gales e, por fim, na Irlanda do Norte, que será a última e terá um grande embalo depois dos outros dois, perdendo o governo inglês qualquer capacidade para travar esse passo. Externamente, a Holanda referendará a permanência na UE, assim como a Dinamarca. Isto, num primeiro passo porque a seguir provavelmente outros virão.

E assim se precipita uma crise cataclísmica. Claro que há quem ache que tudo isto não passa de uma tempestade sem grande consequências, mas não é, infelizmente, essa a minha opinião. Pelo contrário, acho que vêm aí tempos (anos) ainda mais tempestuosos. Venham os botes salva-vidas para quem neles conseguir entrar.

Oxalá me engane.