14.9.15

Resultado do fim de semana

Nos últimos dias, interpelou-me:

  • Jeremy Corbyn ter ganho a liderança dos trabalhistas ingleses. Alguém que tem como programa (i) sair da NATO, (ii) desnuclear o RU, (iii) pôr fim à austeridade, (iv) nacionalizar os caminhos de ferro, a água e a electricidade, (v) abolir as propinas universitárias, (vi) abolir os cortes nas prestações sociais do Estado e (vii) reforçar diversos apoios públicos, não é alguém em quem deva confiar-se demasiado para ter uma atitude sensata aquando do referendo sobre a permanência do RU na UE que irá realizar-se proximamente. Efectivamente, Cameron precisaria de um partido trabalhista comprometido com o projecto europeu para não correr demasiados riscos, o que não parece que vá acontecer. Ora, se o RU sai da EU por qualquer motivo, isso constituirá mais um seríissimo revés no projecto europeu que começa, mais do que moribundo, a ficar cadáver.
  • Ter visto uma exposição de fotografia no antigo hospital psiquiátrico Miguel Bombarda (encerrou em 2011) que retrata o dia-a-dia de alguns dos antigos internados. São fotografias antigas, a preto e branco, sorumbáticas, algumas delas medonhas, que mostram a profunda tristeza (e miséria?) daquelas vidas. Pessoas doentes, mal vestidas, sujas, feias, sozinhas, verdadeiramente alienadas do resto do mundo, era o que ali havia. Fiquei com a impressão de que a fronteira para o abismo pode estar aqui ao lado e nós não damos por isso. Pus-me a pensar no que tinha de acontecer e ser diagnosticado para uma pessoa ser internada numa instituição de alienados, tal como então se chamava ao hospital... Do que vi, embora sejam imagens congeladas no tempo e que podem não retratar fielmente a realidade que se vivia, acho muito difícil que alguém conseguisse recuperar alguma sanidade ali metido.
  • A (re)orientação jornalística relativamente aos resultados eleitorais. Há, parece, um período anterior ao debate (AD) e posterior ao debate (PD). Enquanto estávamos no primeiro, o PS estava em rota descendente e o seu secretário-geral não parecia capaz de aglutinar o partido e os simpatizantes em torno de um projecto ganhador e que gerasse confiança. Já depois do debate, tudo parece diferente e o mesmo António Costa parece outro, as pessoas à sua volta parecem outras e os jornalistas dão vivas de gáudio por isso. A comunicação social portuguesa é escandalosamente alinhada com a esquerda e, da mesma maneira que crema corpos vivos (nunca vi tamanha orquestração contra Santana Lopes quando era PM - e não o digo por gostar dele porque não gosto), exulta banalidades e não-factos como se de virtudes se tratassem. A verdade é que nada mudou depois do debate: nem programa de governo do PS, nem o secretário-geral, nem a equipa, nem as promessas, nem os mal-entendidos, nem o patente desconforto com as actuações loucas de Sócrates, enfim, nada! Mas a narrativa é agora a de uma dinâmica (?) de vitória da máquina socialista. Haja paciência.