Nas notícias, um nepalês resgatado dos escombros quatro dias (!) depois do terramoto que devastou a região. Vai perder uma perna, porque as probabilidades de estar vivo sem nada a pagar seriam, talvez, demasiado ínfimas para poderem existir. Fala para as câmaras de tv com um sorriso genuíno e com uma voz daquelas que se tem quando se vai lá abaixo à drogaria e se tem uma leve indisposição.
Sem querer, comovi-me e pensei que esta gente - e nesta gente incluo os nepaleses, os povos que vivem em guerra há dezenas de anos, aqueles milhões de pessoas que vivem dificuldades inimagináveis - aguenta o que nós jamais conseguiríamos suportar. Porque não aguentamos aquelas provações, porque estamos habituados a doses maciças de conforto (mesmo quando achamos que é desconforto o que sentimos), porque deixámos quase em absoluto - talvez bem, talvez mal, não sei - de tolerar o sofrimento.
Aquele homem ria-se com serenidade, caramba, depois de ter estado 4 dias debaixo de entulho sem saber se ia sobreviver e depois de saber que ia ficar amputado de uma das pernas...
Tentarei lembrar-me mais vezes daquele homem sempre, e são tantas as vezes, que me chateio com coisas que não passam disso mesmo: coisas.
Há ensinamentos que são dados por quem menos se espera. Este foi um deles.