26.5.14

Deamblogações vespertinas

Não acompanhei a campanha eleitoral, não vi os insultos entre os candidatos, não vi os comentários anteriores e posteriores à eleição. Apenas fui votar e vi hoje os resultados.
E sobre estes, acho que há conclusões várias a tirar:
1. a coligação perde mas sai ganhadora por não perder tanto como se estava à espera;
2. o PS (e Seguro mais do que qualquer outro) ganha mas sai perdedor por não ganhar tanto como se estava à espera;
3. a CDU afirma-se como a terceira força nacional e mantém-se firme como o aço;
4. Marinho e Pinto vai começar em futuras eleições a ser disputado pelos partidos porque já se viu que é absolutamente indiferente ele estar no MPT ou noutro qualquer partido (o Beppe Grillismo chegou finalmente até nós) porque o que ele quer e do que gosta é de poleiro para poder vomitar alarvidades com aquele tom que lhe é característico - aliás, já deu a entender que poderá não cumprir o mandato de deputado europeu para se candidatar à AR, o que não deixa de ser extraordinário e muito elucidativo do que o que o faz correr;
5. a Rui Tavares saiu-lhe o tiro pela culatra porque não apenas conseguiu a magia da pulverização do voto à esquerda do PS, como não ser eleito, o que constitui quanto a mim o maior lamento destas eleições;
6. o BE irá desaparecer se continuar nesta senda (e nada diz que não vá continuar).

A nível internacional, Farage e Le Pen (mas há outros) têm razões para estar felicíssimos: o primeiro conseguiu intrometer-se entre Tories e Labour pela primeira vez em 114 anos de história, ao passo que a segunda ganhou e arrasou pateticamente os partidos moderados, com Hollande à cabeça.

Esta viragem radical não antecipa nada de bom e faz-me temer pelo futuro europeu tal como ele foi construído até há uns anos atrás. Esperava-se, pois, que os principais actores europeus percebessem isto e tudo começassem a fazer para o impedir, mas, pelas declarações de Juncker quanto à sua indicação pelo PE para candidato a presidente da Comissão e a resposta de Schulz, já se percebeu que os interesses andam longe dos dos cidadãos moderados europeus.

Realmente existe aqui um problema: por mais que queiramos achar que o que se decide nas instâncias europeias nada tem que ver connosco, não pode essa reflexão estar mais afastada da realidade. Não apenas tem e muito, como é cada vez mais determinante. E é precisamente essa a questão. É que a vida de cada um de nós é mais afectada pelo Dr. Marinho e Pinto lá longe do que seria (será?) na AR. Apesar de assim ser, apenas 35% das pessoas votaram, numa claríssima demonstração de indiferença misturada com descontentamento. Ambos são, claro, sentimentos legítimos, assim como o é a forma de serem demonstrados (no caso, com a omissão de um comportamento), mas isso vai sair-nos muito caro. E não é porque nos custe mais défice, mas sim porque está hoje francamente em causa o modelo de sociedade civilizada e pacífica que fomos conhecendo desde a grande guerra.

A factura das fracturas políticas e sociais não tarda a chegar. E não vale a pena ir para o Rock in Rio fingir que está tudo bem. Não está. Está quase tudo mal.