22.7.13

Deamblogações matinais

O discurso de ontem de Cavaco foi, para além de vácuo, absolutamente evidente quanto ao papel confuso, sem rumo e desastrado que o presidente teve em toda esta triste história. O que era verdade ontem já não é hoje e vice-versa. Entre outras coisas, dizer que estão lançadas as bases para um compromisso de diálogo e de entendimento é, no mínimo, ingénuo, para não lhe chamar patético. Mais uma vez Cavaco afasta a água do capote e tenta passar incólume pela trapalhada irresponsável que os dois partidos da coligação criaram e que ele tinha constitucionalmente o dever de resolver. Repito: tinha constitucionalmente o dever de resolver. De tudo o que li, acho, no entanto, a crónica de Rui Tavares no Público de hoje a mais certeira e a que, em minha opinião, melhor caracteriza a actuação do PR:
"Os discursos de Cavaco Silva à nação começaram a ter uma certa lógica. Dividem-se em duas partes: antes do copo d'água (a.c.) e depois do copo d'água (d.c.). Antes do copo d'água Cavaco explica-nos como é que tudo aquilo que ele queria deu errado: os partidos não quiseram um compromisso de salvação nacional que "75% dos países de dimensão média da União Europeia" têm... e etc., por mais incompreensível e intelectualmente desonesto que seja. Depois, Cavado pára. Apossa-se do copo d'água. Bebe com sofreguidão. (...) Cavado pousa o copo d´água. Diz: "Portugueses". E finalmente explica-nos que vai fazer aquilo que não queria fazer há quinze dias. (...)
No ano de 1582, Portugal passou do calendário juliano para o gregoriano e perdeu dez dias entre 4 e 15 de outubro. (...) Entre o "antes de Cavaco" e o "depois de Cavaco" passaram também dez dias, de 10 a 21 de julho. Os dez dias mais mal perdidos de toda a história do país, incluindo 1582".