21.6.18

Escritos



Acho que já aqui contei que, há bastantes anos atrás, andei muito tempo até conseguir que a música deles me entrasse. Como se alguma coisa não encaixasse e as noções de ritmo e acordes que eu tinha não concordassem com o que era proposto. Até ao dia. E a partir desse dia, foi como se tudo tivesse encontrado o seu lugar. Os neurónios andaram às cabeçadas mas lá acabaram por criar novas sinapses que acolheram o jorro de criatividade que vinha dali.
Passados uns anos, tive uma decepção ao vê-los no Alive, num concerto frio e esquemático, sem grande fulgor. Depois veio o adeus no Madison Square Garden, em mais de 3 horas de música e convidados, com um final apoteótico, cheio de lágrimas por uma despedida fora de tempo e contra-natura. Afinal, porquê? e para quê?, eram as perguntas que se impunham. Só por falta de oportunidade (os bilhetes esgotaram em menos de 15 minutos) não fiz uma total loucura para estar nesse concerto e fiquei triste por nunca ter tido a oportunidade de os ver ao vivo como deve ser, a sentir tudo aquilo que sinto quando os oiço em disco. Mas depois renasceram - como não podia deixar de ser - e o que era o ponto final não foi senão um ponto e vírgula, nem sequer muito longo. Como quase todos, fiquei nessa altura com um sentimento misto entre o contentamento e a desilusão pelo facto de James Murphy ter dado uma golpada mediática (terá sido isso?). Mas rapidamente me passou. Que se lixasse a golpada mediática! O que isso significava era a possibilidade de conseguir concretizar aquela minha intenção. Como não fui a Paredes de Coura em 2016, a coisa ficou adiada. Até ontem.
Até ontem...
E ontem valeu todas as vezes que não pude ver, não pude ir, não pude comparecer à festa. Porque é de uma festa que se trata, de uma reunião de amigos, com dança, abraços, beijos, saudades, nostalgia e alegria. Muita alegria. Concretizei esse meu desejo de reunir ao vivo toda a energia que ando há anos a acumular cada vez que oiço LCD, libertando-a toda, até à última gota de suor. E foi mesmo muito suor que daqui saiu. E que bom que foi.

Vale a pena ler a crítica do Vítor Belanciano à primeira noite de concerto - AQUI - que acaba assim, no que é uma síntese quase perfeita do que se passou:

" Quase duas horas depois do início, All my friends é a síntese de tudo, é colar os cacos do que se ouviu e sentiu antes. É sorrir, lacrimejar ou saltar para esse lugar onde cada um poderá sentir-se confortável com essa sensação de que não se está só. É perceber que os grandes momentos, o que se leva daqui, são coisas minúsculas como um enorme concerto entre amigos."