6.6.18

Escritos



Fechemos os olhos por um momento.

Pensemos que Bruno de Carvalho estava cheio de razão, aliás, tinha toda a razão do seu lado e que todas, mas mesmo todas, as pessoas que se têm manifestado contra as suas decisões, atitudes, etc. estavam erradas, completamente erradas.

Também por instantes, imaginemos que o que Bruno de Carvalho queria mesmo era o bem do Sporting, protegendo os superiores interesses do Sporting (essa expressão tão esvaziada de conteúdo de tantas e tantas vezes que é usada).

Continuando com os olhos fechados neste exercício mental, vamos agora pensar que toda essa gente que contraria o presidente do Sporting queria o mal do clube, a sua ruína e mesmo o seu desaparecimento.

E que Bruno de Carvalho, por detrás daquela máscara de emoções incontidas e descontroladas, era um homem sensato, honesto, visionário, apenas um pouco truculento porque demasiado transparente.

E, também, que, do outro lado, todos os demais sócios e apoiantes do Sporting eram desonestos, calculistas, cínicos e mentirosos.

Era tudo assim, sem tirar nem pôr.

Abramos agora os olhos sabendo que era tudo tal e qual assim.

No pressuposto desta realidade assim criada, o que é que Bruno de Carvalho, homem decente , honesto, bem intencionado, crente dos valores sportinguistas, seguidor e protector dos superiores interesses do Sporting, faria? Por mais que lhe custasse, por muito mau que ele achasse que era para o Sporting, por muito frustrado que se sentisse por ninguém o entender e conseguir antecipar o que só ele e a sua direcção conseguiam antever como o futuro correcto para o clube, o que é que ele faria?

Vendo que o valor do Sporting se delapida de dia para dia, que a sangria da saída de jogadores está longe de estar afastada, que os sócios não se entendem, que os estatutos não lhe permitem tomar as medidas que tem tomado, que existem acções contra si, a sua direcção e as decisões que têm tomado, que não há treinador, que não há equipa médica, que é extremamente difícil que venha alguém estável e dedicado treinar um clube nestas condições, que não estão garantidas verbas para poder comprar jogadores com a qualidade que um clube destes tem de ter, que é assumido publicamente por todos - repito: POR TODOS (inclusive seus apoiantes) - que não estão reunidas as condições mínimas para dar continuidade a este projecto, o que é que ele faria?

Meus caros, só há, feliz ou infelizmente, uma resposta: demitir-se-ia e, com ele, toda a direcção.

Aí sim, a bem dos superiores interesses do Sporting.

Mas não é isto que acontece pois não? Não, não é.

Então, se calhar, a realidade acima descrita não corresponde à verdade...

Pois, se calhar, não corresponde à verdade.

Olha que grande maçada.