11.4.14

Deamblogações matinais


Há dias, numa situação de tensão com alguém, decidi calar-me e deixar o outro falar. Mas não me calei nem com ar de gozo ou desdém, nem com ar zangado. Simplesmente calei-me e concentrei-me na respiração. E não disse mais nada. O fim foi constrangedor porque eu decidi mesmo não dizer mais nada e, como estávamos fisicamente frente a frente, não havia a possibilidade do outro desligar, tal como aconteceria certamente se se estivesse numa conversa telefónica. Acabou por me chamar louco e virou costas e foi-se embora, não sem antes lhe ter passado pelos olhos a possbilidade de me bater.
Nos dias que correm, em que não há silêncio em quase nada, o silêncio ganha uma força extraordinária. Não digo como arma de arremesso contra o outro, um pouco como no exemplo de cima (embora a minha vontade não tenha sido só a de o confrontar, foi mais de recolha perante a agressão externa), mas como instrumento de vida. Passamos os nossos dias cheios de cacofonia a entrar-nos pelos ouvidos, quando queremos e fazemos por isso e quando não queremos e pagávamos para que tal não acontecesse. Nem nos apercebemos da importância que tem verdadeiramente passar alguns momentos em silêncio. Chegamos a fugir dele porque ele abre a porta a espíritos com os quais não queremos muitas das vezes confrontar-nos.
Mas o silêncio é um bem precioso e quando bem usado vale por mil palavras ou actos. E ensina-nos muito. No vórtice dos dias, há que compreender o sentido disto.