Deamblogações nocturnas

Começando como se começa hoje em dia a maior parte das frases em Portugal:

É assim: fiquei, portanto, hoje a saber que o Quarteto irá ser ocupado pela Igreja Evangélica. Fonix!, pensei, mais um! Ou melhor, mais uma, porque na verdade é mais uma igreja que toma conta de um antigo cinema (assim de repente, lembro-me do Império, do Alvalade e agora deste, mas talvez existam outros, devem existir outros). A equação por estes dias de amargura é simples: mais vale uma igreja evangélica do que um chinês (caso do Londres)? Hummmm... resposta assaz difícil.
Amanhã, já decidi, publicito nos meios próprios (panfletos das igrejas que por aí polulam e lojas e restaurantes chineses (estes últimos já em menor número desde a razia da ASAE) que o King também fechou, sendo um alvo mais do que evidente. Talvez ainda ganhe umas massas, considerei.
Na verdade, já nem me chateio com notícias deste tipo. A única coisa em que fico a pensar é nisto: diz a notícia que o IGAC considerou que o Quarteto não reunia as condições de segurança indispensáveis à manutenção da actividade. Talvez fosse verdade. Seria verdade. Era verdade. Nem as condições de segurança, nem as condições técnicas: para além dos ecrãs estarem carcomidos em alguns sítios, era comum ouvir-se o filme do lado, o que, a bem dizer, foi percursor do "pague 1 leve 2" porque a pessoa saía da sala e tinha a sensação de ter visto (bem, visto não, ouvido) dois filmes e da próxima vez que fosse ver o que já tinha ouvido, tinha a sensação de déjà-vu. Era extraordinário...
Tudo isso era verdade, mas aquilo era um destino para uma imensa minoria! (Onde é que já ouvi isto?...), um sítio onde se ia para ver bom cinema (até certa altura), para se ser roubado ao pedir um chocolate e pagar 300 paus por uma coisa que custava 80 nos outros sítios, para se encontrar gente e ir beber um café. Tudo coisas que fazem falta.
Enfim... fonix!, pensei eu outra vez, estão de facto a dar cabo desta merda toda! Foi o que pensei...
Mas voltando ao IGAC, portanto os tipos consideraram que aquilo não dava e fecharam. Como a ASAE fechou tantas coisas e descracterizou outras tantas nos últimos anos, etc., etc. Fecharam e pronto. Destruíram mais uma coisa que muitos de nós tinham como ID. Mas eles cagam bem d'alto em tudo isso (voltei eu a pensar). Estes cabrões (outra vez) fecham mesmo tudo, dão cabo de tudo e depois vêm as igrejas evangélicas desta puta desta vida e os chineses que querem é negócio e estão-se eles a cagar para os Quartetos e para o lastro cultural que se vai perdendo, e tomam conta de tudo, como se tudo não passasse de uma vaga memória.
Foda-se, pensei eu, foda-se.
E penso. Foda-se. Puta que os pariu. A todos.
É o que penso. E cada vez mais.