12.2.14

Deamblogações matinais

Alguém me explica como é que um partido reconhecidamente determinante na implementação e concretização da democracia portuguesa se deixa agonizar desta forma no caminho da irrelevância nacional? Alguém me explica como é que um partido reconhecidamente pluralista, que sempre conviveu, umas vezes melhor outras pior, com opiniões, ideias e credos diferentes, tem acabado com as dissonâncias internas na tentativa (tão irrealista quanto espúrea) de criar internamente uma só voz? Alguém me explica como é que um partido que sempre privilegiou a classe média, o povo honesto e trabalhador, a pequena burguesia trabalhadora, lhes virou costas, quiçá irremediável e definitivamente, abandonando uma das suas matrizes mais fundas e identitárias? Alguém me explica porque razão, numa súmula de tudo isto e ainda mais coisas, um partido como o PSD não se inibe de despedir (o termo é mesmo este) António Capucho? Como é que não percebe que isto é muito mais do que simplesmente despedir António Capucho? Que, com António Capucho, vão muitos outros militantes que se fartam, se cansam, entregam os cartões e viram costas pura e simplesmente? E outros não militantes que deixam definitivamente de acreditar, deixam de ter esperança que aquele partido em que um dia confiaram como defensor de muito do que acreditavam já de nada serve, apenas servindo os seus a seu modo?
O que acaba de acontecer é criminoso, não no sentido próprio, mas no sentido em que a purga que se vive dentro deste partido - que cada vez menos é o PSD para ser uma amálgama incolor de gente que tem agendas pessoais bem definidas - o fere de morte mais uma vez.
A mim dá-me tristeza. Vejo os meus filhos que não têm qualquer apego a qualquer dos partidos existentes. Um apego sequer parecido ao que eu tinha na idade deles. Não existem líderes carismáticos que se atravessem e tenham uma ideia bem construída sobre o país e o seu povo, que defendam intransigentemente quem trabalha, não como quem atira milho às galinhas só para as calar, mas porque conhece bem as ansiedades e os desesperos de quem tem contas para pagar.
Mas também me dá tristeza, não pelo partido em si, mas pela falta que o mesmo faz - e fará! - a Portugal e a todos nós.
Não há enxurrada que os leve. A estes que ali estão. A destruir e a semear o nada.