11.9.13

Deamblogações vespertinas

Há doze anos eu estava em Bali, recém-casado e inundado de esperança num futuro radioso. Cheio de jet-lag, acordei a meio da noite sem sono nenhum e vi umas pessoas a saltarem das torres gémeas num directo da CNN, pensando tratar-se de um filme série B americano (isto é literalmente verdade: a primeira coisa que pensei quando vi as imagens foi quem seria o louco que tinha tido a ideia de montar um argumento daqueles. Essa sensação durou dez segundos até me aperceber da desgraça...).
Nesse Setembro de 2001 tudo era diferente, muito diferente. A vida era diferente e o mundo em que hoje vivemos também. Não era tudo bom e hoje é tudo mau, mas talvez houvesse um bocadinho menos de coisas más.
Relembro as atrocidades do WTC, de Bali poucos anos depois, de Atocha, do Iraque, da Coreia do Norte, do Afganistão e, agora, da Síria e penso: que estranho mundo este em que vivemos, em que parte da humanidade se dedica à matança e ao genocídio. Crianças (crianças!...), mulheres, homens indefesos, vítimas de interesses que muito os ultrapassam, com os quais nunca se cruzaram nem nunca se cruzarão.
Que estranho mundo este em que o comércio das armas e os interesses dos estados e de quem os governa estão muito, mas mesmo muito à frente das gentes que neles habita, que não passam de meros peões que, de um dia para o outro podem ficar sem casa, sem trabalho, sem chão, sem amigos, sem família, sem pátria, sem nada. Literalmente nada.
Que mundo estranho em que quarenta e tal por cento dos homens asiáticos (numa sondagem em que foram entrevistados cerca de dez mil) diz já ter violado a mulher ou a namorada e cerca de dez por cento reconhece já o ter feito a um estranho.
Que horror que é o sofrimento de uma criança de dez anos quando perde tudo, literalmente tudo, e tem de passar a ocupar-se de reactivar bombas e outro tipo de armamento para o exército revolucionário sírio. E repliquemos isto por centenas de milhares de casos...
Que injustiça quando governos acham que as medidas que tomam devem sacrificar quem trabalha e pouco tem e poupar quem activamente contribuiu para a situação vivida e muito esconde.
Que falta de esperança quando se hipoteca o futuro de milhões de crianças e jovens em nome de algo que ninguém sabe ao certo.
É. Há doze anos eu estava em Bali a pensar que a vida ia ser de uma maneira que, afinal, não foi. Não foi para mim, como não foi para ninguém. Mas tínhamos - e continuamos a ter - o direito (há que dizê-lo sem vergonha) de não ver a nossa condição piorar de dia para dia, de ver milhões de pessoas a sofrer por razões para as quais em nada contribuíram.
Temos, sim, o direito de ver os responsáveis pagarem pelo que fizeram. É esse o tributo que as sociedades do mundo devem a quem é todos os dias espezinhado. E são muitos. Muitos milhões. Muitos milhões de crianças. E isso é insuportável.