Passos ou a vã glória de mandar podia muito bem ser o título alegórico dado ao consulado do primeiro ministro. Ele que finge que manda mas não manda, ele que finge que resolve mas não resolve, ele que finge que percebe mas não percebe. Ele que só não finge que não é teimoso, porque é-o e muito e por sê-lo é que ainda prossegue este caminho como se não houvesse outro, como se tudo dependesse e apenas dele.
Passos não ouve o povo, mas não é apenas o povo que ele não ouve. Ele não ouve ninguém, não escuta o que lhe dizem os sinais, cada vez estes mais evidentes da erosão que grassa por esta nossa sociedade.
As manifestações como a de Sábado passado são boas para aliviar a pressão, mas esta sobe mais depressa do que a panela consegue libertar. Chegará o dia em que rebenta e tem muitas formas de rebentar.
Este caminho não dá. A actividade económica até pode retomar em patamares mínimos, de forma menos que tímida, mas o desemprego vai continuar a aumentar porque com estas medidas, com este caminho pôs-se definitivamente de lado uma parte importante da sociedade portuguesa, a mesma que ficou definitivamente segregada em nome da saúde financeira do país.
Disso Passos não se livrará, mas, pior, não nos livraremos nós que teremos uma nova realidade neste canto à beira mar plantado que terá de conviver e saber conviver com uma horda enorme de desempregados profissionais que outra coisa não poderá fazer que não ficar inactiva oficialmente. E isso é uma absoluta desgraça. Não tarda em termos reais teremos 25% da população portuguesa nessa condição. Dirão que é exagero. Mas não é. Só nunca aparecerá esse número porque o mesmo é mascarado quer pelos que já não estão no sistema e abandonaram as listas do IEFP, quer pelos que emigraram e voltaram costas a isto.
Mas, verdadeiramente, não é essa a forma de tratar da saúde de um país. Ou é?