2.4.07

Deamblogações

A propósito do PNR e da “clareza” e seriedade da sua ideologia (?), não consigo de deixar de reproduzir a resposta que, em sede de FAQ, o partido dá à pergunta «Os imigrantes geram riqueza?»:

Não. O imigrante beneficia sim das benesses custeadas pelos portugueses e que lhes são dadas pelos governos, subservientes do capitalismo selvagem que alimenta o seu umbigo.

Os imigrantes podem contribuir para o aumento do PIB, mas isto se não forem incluídas as despesas que a presença deles em Portugal implica, e que fazem com que eles na verdade apenas contribuam para o empobrecimento do Estado.

Junte-se ao valor do défice os milhões que já foram, e ainda são, gastos com habitação social, rendimentos mínimos, abonos a famílias que não param de crescer, recrutamento de polícias para vigiar certos bairros, custos com serviços prisionais, subsídios de desemprego, assistência hospitalar e sanitária, cursos profissionais e de língua portuguesa, etc., etc., tudo isto custa muitos milhões aos contribuintes!

Vejam-se alguns dos mimos ali contidos: “o imigrante” é designado como se de uma raça se tratasse. Há o português, o espanhol, o francês, etc., e “o imigrante”. É, pois, uma “coisa” à parte.

Por outro lado, certamente por incapacidade minha, confesso que não consigo perceber o que é que a “subserviência” ao “capitalismo selvagem” que alimenta o “umbigo” dos governos (é isto?...) tem que ver com as alegadas benesses custeadas por todos nós, portugueses (resta saber se só portugueses brancos ou também os de cor).

A seguir mencionam-se as despesas que os imigrantes fazem em que se incorra. Mas, embora mais uma vez possa estar redondamente enganado, parece-me que das duas uma: ou estão legalizados e com eles existem as mesmas despesas que com qualquer outro cidadão legalizado (a menos que “o imigrante” tenha mais propensão para doenças, absentismo laboral e outras coisas do género, que, confesso, nunca vi demonstrado, certamente por falta de leitura e desatenção), ou não estão legalizados e vivem à margem da sociedade, devendo eles próprios custear despesas que, no primeiro caso, seriam suportadas pelo Estado. Mas não interessa nada disto. O que é importante é que as despesas feitas com “os imigrantes” fazem com que baixe efectivamente o PIB. Ponto final. End of discussion.

Por último, os “milhões” que são gastos única e exclusivamente por causa dessa praga que é “o imigrante”: habitação social, RMG, as famílias que não param de crescer (curioso, que, parágrafos antes, o PNR se declara pró-vida e pró-família, como célula de base da “Nação”), a necessidade de aumentar a viligância polícial, etc., etc., mas o melhor de tudo é a parte final: os milhões gastos com «cursos profissionais e de língua portuguesa»!!! Seria, de facto, para rir às gargalhadas, não fora a tristeza imanente a tudo isto…

Concordo consigo quando refere a certa histeria que esteve na base do cartaz do PNR em pleno Marquês de Pombal e, sobretudo, o que isso demonstra a nível psico-sociológico na nossa sociedade. Tal não é, no entanto, motivo – nunca, em boa verdade, o vi dizer que o era – para não desmontar as asneiras propaladas por esta meia dúzia de jovens, alguns já não tão jovens quanto isso, que, à falta de melhor ocupação, se distraem em mandar atoardas cá para fora.

Aquele cartaz, tal como tudo o resto que fizeram, façam ou fizerem, merecia, contudo, ter um melhor destino: continuar intacto e não ser objecto de um único comentário ou reacção fosse de quem fosse. Fiquem lá com a bicicleta e divirtam-se…