3.1.23
Deamblogações matinais
"Il y a eu les premières fois, la sensation du danger qui s’éloignait, puis cette liberté inattendue, effrayante, qui me faisait courir tous les risques. Il y a eu le vertige du nouvel amour malgré le manque. Le désir et le chagrin mêlés, toutes ces contradictions, la vie comme dans un tambour de machine à laver. Il y a eu la fidélité et la culpabilité. Les grands mots. Ça fait vingt ans et ma mémoire est trouée. Il m’arrive de te perdre, je te laisse sortir de moi."
Brigitte Giraud, Vivre Vite
3.12.22
A um tempo ausente
Houve dois concertos, nós fomos ao primeiro, na quinta-feira passada, na Culturgeste (de quem foi a magnífica ideia de fazer um concerto que tinha tudo para ser uma festa num sítio onde se está sentado em sofás?). Acabei de ler no Expresso que aquilo foi mais uma reunião de amigos do que outra coisa, mas isso é dizer pouco. Foi um concerto muito longe de perfeito - foram vários os pregos a meio das canções e o som estava sofrível - mas nada disso importou para alguma coisa. Foi, de facto, uma reunião de amigos, quer os que estavam no palco, quer os que estavam a assistir. Mesmo que não se conhecessem. Foi o desfiar - embora um desfiar reduzido porque uma hora e vinte é demasiado pouco para desfiar convenientemente uma história - de um quase nada de vários anos que marcaram profundamente a história da música portuguesa. Do lado do palco sentiu-se uma evidente comoção, desde logo do Pedro Oliveira, mas também, à sua maneira, do Francisco Meneses, do Gabriel Gomes e do Rodrigo Leão, este sempre mais seráfico e compenetrado. Do lado de cá, das cadeiras, era evidente o entusiasmo e a simultânea frustração, o primeiro porque se estava a assistir à reunião de uma banda que deixou de tocar há muito, a segunda porque foi evidente o desacerto daquela sala para o evento em questão.
Musicalmente não foi uma perfeição, longe disso, mas na verdade ninguém ali foi para "ouvir" música. Todos ali foram para "sentir" e "viver" música. Detestei alguns acordes, assim como não gostei que tivessem cortado uma ou outra canção, mas tudo isso foi indiferente.
O que vi e senti foi uma viagem não apenas pela música, mas também pela vida. Pela vida deles e pela vida de todos nós que ali estávamos, individual e colectivamente considerada. Não nos conhecíamos, mas era como se nos conhecêssemos de sempre. Ali, naquele tempo e espaço musical, partilhámos uma vida em pouco mais de uma hora e isso é único.
1.9.22
Deamblogações matinais
Agora que a Netflix perdeu o estatuto de estrela do streaming e está em lenta queda em favor de tantos (demasiados?) seus concorrentes directos, ali encontrei uma série tão obrigatória quanto indigesta e difícil. Bom Dia Verônica é, num primeiro momento, sobre a violência doméstica mas é muito mais do que só violência doméstica. É também sobre as teias da corrupção no Brasil, o que lentamente vai emergindo, à medida que a primeira temporada (num total de duas) se desenvolve.
Mas se a questão da corrupção no Brasil é um tema algo esfalfado de tão tratado em filmes e séries, a forma como se chega lá é simultaneamente magnífica e difícil. Trata-se de uma série física e psicologicamente muito violenta, tão violenta que me aconteceu ficar incomodado e com a sensação de não querer continuar a ver o episódio, mas algo me foi impelindo a não desistir, como se de um dever se tratasse. Porque a questão da violência conjugal - e também da violência de género, que se sobrepõe - é aqui retratada de uma maneira quase real (julgo) e sem subterfúgios estilísticos. Daí o incómodo.
Há uma protagonista - Verônica Torres (Tainá Müller) - mas que não é heroína nem super-mulher (só ainda vi a primeira temporada e admito que isso possa mudar na segunda, não sei). Pelo contrário, confronta-se, quase sempre a perder, com o lado obscuro da política e das políticas que tudo controlam em prol de benefícios escondidos e que vão empobrecendo a sociedade não apenas financeiramente como em termos de valores.
Que grande surpresa este seriado. E que grandes representações de duas ou três personagens. Dei por muito bem empregues as horas que me levou a ver os 8 episódios da primeira série. Assim seja com os 6 da segunda.
18.8.22
Ecos de Massilia
Marselha, antiga Massilia. Pólo de entrada de milhões de muçulmanos, sobretudo desde a década de cinquenta do século passado e sobretudo vindos da Argélia. Mas não só: Argélia, Tunísia, Marrocos, Camarões, Itália, Turquia, Espanha, Portugal, Roménia e Madagáscar, são estes os principais países de emigração para esta cidade, o que faz dela uma combustão de raças e modos de vida muito diferentes. De todo o modo, a Argélia ganha por mais de quatro vezes ao segundo país, o que mostra bem o peso que representa. E isso vè-se muito bem.
Chegámos de carro vindos da montanha, depois de dois dias passados no sopé dos Alpes, com muito pouca densidade populacional e uma relativa calma, mesmo tendo em conta que estamos em pleno período de férias. Ao entrar em Marselha, duas circunstâncias se impuseram de imediato: o calor sufocante não apenas pela temperatura elevada mas também pela pesadíssima taxa de humidade e o caos absoluto. Caos. Absoluto. Milhares e milhares de pessoas na rua, a andar, a correr, a vender, a comprar, a fumar, a conversar, a roubar, a conviver, a dançar, a tocar, a traficar, a comer, a beber, a conduzir, a gritar. Tudo isto debaixo de um calor de ananases sufocante e abrasador, sem que ninguém aparentasse importar-se.
Porto velho. Local de chegada e partida para outro continente ou tão-só para ir visitar o chateau d'If. Na baía convivem os ferrys portadores da populaça e os barcos particulares atracados na marina, uns maiores do que outros, mas todos portadores daquela patine tão própria do que é ligado à náutica, com os proprietários a condizerem, como se estivessem em qualquer outro lugar e rodeada de qualquer outra gente. Mas é de facto uma outra gente porque aqui, ao contrário do que se vê na Côte d'Azur, a marina está fortificada e separada do resto por um sistema de gradeamento reforçado por seguranças bem encorpados que se encarregarão de deter quaisquer intenções menos óbvias. "Cá fora" o reino do caos impera. Ninguém respeita os sinais de trânsito, nem sequer os sentidos da circulação. Há miúdos imberbes a conduzirem motos, carros a transbordar de pessoas, buzinas em constante movimento. Tudo isto ao mesmo tempo que, a menos de 3 metros, pessoas comem em esplanadas construídas para turistas, umas com melhor aspecto do que outras, mas todas infernalmente envoltas na confusão. E sujidade. E mau cheiro. Tudo isto convive pacificamente, como se nada disto conflituasse com os restantes elementos. É muito esquisito ver isto numa cidade europeia, mas assim é em Marselha.
Claro que, embora estando geograficamente situada na Europa, a cidade não parece obedecer aos hábitos e regras europeus, mas sim aos do Maghreb, afinal o local de origem mais ou menos remota de parte muito signitficativa da.sua população. E, na verdade, para quem conhece o Maghreb, não existem diferenças muito assinaláveis, a não ser a presença de mais ocidentais brancos que, no entanto, são engolidos por uma azáfama que lhes é naturalmente estranha. Há muito que oiço e leio o que politicamente se diz e escreve acerca da presença muçulmana em França (com destaque para Paris e Marselha), mas confesso que nunca me tinha apercebido da sua dimensão. Não há aqui qualquer preconceito relativamente a este tema, apenas uma tentativa de descrição objectiva do que vi. De facto, se por momentos nos esquecêssemos de onde estávamos, diríamos estar num qualquer país árabe. Não se ouve falar francês nas ruas principais junto ao porto velho. Em contrapartida, ouve-se árabe como em Marrocos ou na Tunísia, vêem-se mulheres de niqab ou hijab, tipicamente em grupos ou acompanhadas por homens árabes, e estes, como também é normal nesses países, em grandes grupos a fumar ou conversar. A certa altura, numa avenida larga que sai do porto para cima, tive a sensação de estar em Jemaa el-Fna tal era a confusão de pessoas, odores e sons.
Nem sempre é confortável porque, ao contrário do que acontece num país árabe, aqui nunca se sabe bem se o transeunte com quem nos cruzamos nos olha fixamente nos olhos porque isso faz parte da sua cultura ou porque, aproveitando-se disso mesmo, se está a preparar para qualquer outra coisa. Talvez seja exagero meu, mas esta sensação acompanhou-me por diversas vezes, enquanto que num país muçulmano tal nem me passa pela cabeça. Andamos, pois, por entre toda esta gente e confusão, olhando para lojas ocidentais que dão paredes meias com restaurantes de kebabs e lojas de sumos naturais ou de venda de bric à brac.Não dá para classificar com exactidão. A certa altura metemos por uma rua que pareceu (e era) um local de tráfico muito semelhante a uma rua que sai da praça do Intendente em direcção aos Anjos. Tarde de mais, já lá estávamos e não havia retorno sem dar bandeira. Ignorámos as constantes tentativas de venda e virámos à esquerda. Escassos cinquenta metros à frente, uma boutique da Nespresso! Sem palavras.
No meio de toda esta gente, entre a qual também se avistavam turistas como nós, comentávamos que não se viam franceses brancos que parecessem habitantes locais, pelo que a questão era pois onde é que eles andavam, se é que andavam. Subimos então ao último andar de um edifício parecido com o S. Jorge mas maior e renovado, onde se anunciava um restaurante. Ficámos, então, uma vez mais espantados com o que vimos. Gente muito sofisticada a jantar ou a beber um copo, num final de tarde abrasador, com uma vista de quase 360 graus sobre a cidade. Muçulmanos, com excepção de um ou outro a servir, não vi nas duas vezes que lá fomos. Falámos então sobre onde andaria esta gente durante o dia e como é que conviveria com os seus concidadãos com os quais julgo pouco ou nada partilharem a não ser a mesma cidade. (e será mesmo a mesma?) A diferença é abissal. Estou a falar de adultos de meia idade e mais, visivelmente endinheirados, bem vestidos, a cheirar a perfume, talvez parte deles ligados às artes ou a profissões liberais. O contraste não podia ser mais gritante. Aqui em cima estava-se numa boa e fina casa de Paris, ali em baixo numa versão de terceira de uma qualquer praça muçulmana. É Marselha.
Talvez por causa deste caldo cultural, os franceses que servem nos restaurantes e nos hotéis ou os que estão em museus, são muito mais simpáticos do que os de qualquer outro lado por onde tenhamos passado. Incomparavelmente mais simpáticos. Também aí Marselha parece diferente do resto.
No fim, sei que gostei muito mas não consigo perceber bem porquê. Talvez porque me atraia a mescla de gentes e culturas e defenda que é muito mais valioso um lugar onde todos contribuem para o todo do que aqueles aonde impera uma única forma de viver. Porém, tenho clara noção de que isto é cândido porque, pelo menos em parte da cidade, pareceu-me existir claramente uma cultura dominante e outra dominada ou, no mínimo, com pouco espaço para se expressar de tão avassaladora que a outra é. Não sei se existe ali algum equilíbrio pacífico e aceite por todos. Fiquei com essa curiosidade que não consegui saciar por não conhecer ninguém pessoalmente que ali viva ou tenha vivido. No entanto, se atentarmos a dados objectivos, ficamos a saber que Marselha é a décima quarta cidade mais perigosa de França, sendo que é a segunda maior, o que nos diz muito sobre o carácter relativamente pacífico da sua sociedade. Isso pode, de facto, ser sinal de um certo equilíbrio e de uma verdadeira tolerância para com outras culturas e se assim for é espantoso. Porque foi com espanto que lá entrei e de lá saí.
8.8.22
Deamblogações vespertinas
Gosto dos temas do espaço e, por isso, assisti ao vivo enquanto trabalhava à subida de Mário Ferreira e dos seus comparsas na passada semana à linha que divide formalmente a Terra do espaço. Digo subida e não aventura ou viagem, porque aquilo foi na verdade uma subida e uma descida quase imediata, num total de 13 minutos de voo entre descolar e aterrar. 13 minutos a cerca de $250.000, dá um pouco mais de $19.000 por minuto. Tendo em conta que os passageiros estão um ou dois escassos minutos com gravidade zero - realmente o que torna este voo diferente dos demais - convenhamos que é uma real extravagância.
No entanto, se fosse só extravagante por torrarem dinheiro com uma evidente prova de novo-riquismo, eu nada tinha a dizer, mas o problema é que esta que foi a sexta viagem de muitas mais que irão existir a curto e médio prazo - e à Blue Origin irão juntar-se a Virgin Galactic e outras semelhantes - traz certamente uma pegada carbónica, mais uma, pesada para todos nós, habitantes deste planeta que dificilmente alguma vez poderemos sentir a gravidade zero na barriga.
Ora, ao ver aqueles passageiros muito excitados de mãos dadas lá em cima, depois de tê-los visto ainda cá em baixo com ar de quem ia atravessar o oceano para o desconhecido tamanha era a proeza do que ia fazer, não pude evitar um esgar de escárnio e relativo desprezo por gente que, findas todas as brincadeiras que podem servir de excitação, tem de ir em busca de algo novo, de preferência que dê nas vistas e seja caro para cunhar o carácter de exclusividade apenas permitido a uns happy few. São crianças crescidas estes homens e mulheres que brincam às idas ao espaço a $ 19.000 por minuto. O que vale é que são, de facto, poucos minutos. Mas não tão poucos que não dê direito a centenas de reportagens prévias para ir acompanhando os preparativos e o estado de espírito dos participantes, como se de uma verdadeira expedição se tratasse.
Uma vez aterrados e depois de terem chegado mais de uma dezena de jipes todos alinhados não percebi para quê, desliguei o directo porque tive vergonha alheia. Esta espécie de prazer na demonstração ao mundo da riqueza e do poder é algo que me cria muito desconforto e pena. Pena porque o egoísmo de alguns é tão afastado da realidade e das necessidades mais básicas e prementes que dói.
A Blue Origin tem como assinatura "For the benefit of earth". Confesso que não sei quais são os benefícios que todos podemos retirar destes voos à linha que separa a Terra do espaço. Mas imagino alguns prejuízos, desde logo com o combustível queimado.
Triste sina a nossa ter de passar a ver adultos com ar de crianças mascaradas de astronautas. Só nos faltava esta.
5.8.22
Deamblogações matinais
Detestava os ABBA. Ainda detesta?
Os ABBA são abaixo de cão, o demónio personificado. Oiço a [canção] Dancing Queen e estou um mês sem tirar aquilo de cabeça. Basta ouvir três segundos. É como se desatasse a comer açúcar todos os dias. E o açúcar estraga o paladar, tudo sabe a amargo. Os ABBA amolecem o nosso sentido estético. As pessoas comentam “o que é que interessa, é só música? Dança um bocadinho!”. E lá vem outra vez a voz do demónio. Os Joy Division continuam a ser muito bons, porque são muito bons! Estavam muito à frente esteticamente. Os Talking Heads são muito bons porque são densos. Há um mês para cá, tenho estado a ouvir [a canção] Slippery People [do álbum Speaking in Tongues]. É uma coisa densíssima que tem imensas alusões diferentes que uma pessoa não apanha quando é nova.2.8.22
Deamblogações matinais
Ontem, a propósito de um evento familiar e por uma razão muito específica, pude observar duas famílias recentemente constituídas cujos primeiros filhos são portadores de uma deficiência grave.
Numa delas, o filho tem uma doença degenerativa que afecta toda a sua parte motora e também cognitiva. Fiquei de queixo caído quando me contaram que existem 36 (sim, trinta e seis) pessoas no mundo (não é em Portugal, é no mundo) com a mesma doença, o que faz dela uma daquelas doenças raríssimas, e que ambos os pais são igualmente portadores do gene da doença mas que nunca neles se manifestou, o que os faz serem as únicas pessoas em todo o mundo em que tal foi diagnosticado (EUA). É o euromilhões ao contrário.
Na outra situação, não percebi bem do que se tratava, dado que era uma criança de colo, aliás estava no berço, mas disseram-me que não respirava normalmente , tendo de ser permanentemente assistido por uma máquina portátil e estando sempre ligado a uma máscara de oxigénio.
Em ambas as situações pude aperceber-me da absoluta normalidade dos pais no tratamento dado aos seus filhos. Como se nada os distinguisse dos restantes pais. Ficou-me na memória a mãe da criança de colo, enquanto falava tranquilamente com os amigos, a preparar uma seringa com uma espécie de sopa bastante consistente para dar ao seu filho, muito provavelmente a única forma que ele tem de se alimentar.
Eu olho para isto e, sem querer, sinto uma espécie de culpa por nunca ter vivido nada semelhante. Nunca ter sofrido a dor de ter um filho portador de deficiência, que é um peso (?) que se carrega durante uma vida inteira e não se fica por um acontecimento que, ainda que traumático, está situado no tempo e tem um princípio, um meio e um fim. Isto é discutível, claro, mas a minha percepção imediata é esta. O que é que vai ser daquela criança que, com poucos meses, não respira sozinha nem nunca respirará? O que é que vai ser daquela outra que tem uma degenerescência física e mental e que, inexoravelmente, irá continuar a perder faculdades? E como é que os pais lidam com isto?
Sem saber responder, nem perto, a nada disto, há contudo uma coisa que sei. Admiro a coragem destes pais, a sua capacidade de tornarem normal o que nada tem de normal, o de lidarem com a tranquilidade possível com situações que, de tão extremas, estão para lá do que é possível imaginar. Na falta de compreensão por tudo isto, é real admiração o que sinto.
1.8.22
24.7.22
Deamblogações nocturnas II
Lost and you're hurt again
The easy way to cover my sin
Don't want another dark time to think to myself
We won't get lost inside it all, you're on my way
Deamblogações nocturnas
Quando se acredita verdadeiramente numa coisa e se fazem opções tendo por base essa crença que está imbuída de pressupostos tão fundamentalmente básicos que não se põem em causa, assume-se as consequências negativas - que sempre as há - dessa escolha. Porque é uma escolha. E é livre.
Não tenho nem uso redes sociais, no sentido de saber onde andam e o que fazem as pessoas que conheço - e, já agora, também as que não conheço. Nem os filhos. Tal como não mostro a ninguém o que faço e por onde ando e preservo a minha privacidade a um ponto hoje em dia bastante incomum.
Mas há um preço.
É sentir-me muitas vezes fora do contexto ou, pelo menos, não tão dentro como seria suposto.
E como nem tudo é integralmente bom ou mau, há também um lado de interesse que não é voyeurista nem mesquinho que não posso partilhar nem usar porque, pura e simplesmente, estou fora.
De vez em quando, sim, sofro de FOMO. Talvez mais do que gostaria, mas não a um ponto que me leve a repensar esta opção que nem sequer nunca foi muito pensada. É assim. Ponto.
22.7.22
Videotape, Thom Yorke
You shouldn't be afraid
Because I know today has been
The most perfect day I've ever seen
20.7.22
Deamblogações matinais
De ver o que está escuro
De sentir o que é inerte
De ouvir o que é silêncio.
A vida é mais do que a vida
É A Vida
Que como tal deve ser vivida e sentida.
Na gruta da memória o presente faz-se
vivo de ser festejado.
Todos os dias
Sempre
Todos os dias
20.10.21
A propósito de Thomas Jefferson
Li hoje um artigo no NYT chamado "Cancel Culture" isn't the problem. "OK Culture" is, cujo postulado é, basicamente o seguinte: tantos dos casos que vieram a público nos últimos anos de práticas erradas, criminosas muitas delas, resultam não da cultura de cancelamento que por aí grassa, mas sim de uma cultura de complacência que, durante anos, as aceitou como normais ou senão como normais, pelo menos como admissíveis. A autora dá o exemplo de um treinador da NFL que teve durante anos práticas racistas, misóginas, homofóbicas, etc. e que, por causa do sucesso desportivo que foi tendo, foram todas aceites e desculpadas. Ou seja, pode dizer-se que, da mesma forma que nos habituámos a ver o dinheiro sobrepor-se a certos valores (da autonomia académica, à independência política e pessoal, passando pela própria crise climática), as sucessivas vitórias das equipas treinadas por aquele treinador e o retorno financeiro que as mesmas geravam abafaram, desculparam e branquearam comportamentos inadmissíveis sob qualquer ponto de vista.
No entanto, ao ler o título do artigo do NYT, julgo existir uma confusão perigosa entre o que a autora chama de "OK Culture" e a "Cancel Culture" ou cultura do cancelamento como tem sido chamada entre nós. É que este tipo de cultura é um verdadeiro problema. Eu não tenho nada a favor do racismo, da escravatura, dos maus tratos, da misoginia e por aí fora. Também não tenho nada a favor de uma sociedade estratificada com base na violência, na imposição da lei pela força e pelos mais poderosos (algo a que o mundo assiste diariamente através do poderio económico dos mais fortes) e da imposição de uma cultura sobre a outra (afinal, o que foram os Descobrimentos senão isso mesmo?). Mas não ser apologista destas coisas não significa que se ignore duas coisas: uma chamada História, no âmbito da qual se estuda e se analisa criticamente todos esses acontecimentos; outra chamada Cultura, no âmbito da qual se apreende o passado com vista a aprender e a melhorar o futuro.
Tudo isto a propósito da votação por unanimidade (!) da retirada da estátua de Thomas Jefferson do salão da assembleia legislativa de Nova Iorque, corolário de uma campanha iniciada há vinte anos. Uma comissão de peritos (?) que gere a arte pública de Nova Iorque assim decidiu, após uma proposta dos deputados municipais afro-americanos e latinos. Thomas Jefferson foi um dos pais fundadores dos EUA, fervoroso defensor da liberdade, talvez mesmo o maior defensor do que se tornou um dos pilares da sociedade americana ao longo dos séculos - a liberdade individual -, autor da célebre frase "todos os homens nascem iguais" e, ao mesmo tempo que tudo isto, proprietário de centenas de escravos negros, de quem dispunha e cujo estatuto defendeu durante grande parte da sua vida. Ficaram igualmente conhecidas as suas avançadas sobre as mulheres, a quem alegadamente destratava ou tratava com inegável superioridade machista. Era misógino e um predador sexual. Era, pois, como qualquer um de nós, uma pessoa cheia de contradições (as quais só são mais visíveis neste caso dado o papel do homem na História): ao mesmo tempo que teve um papel determinante na forma como nasceram e viriam a desenvolver-se os EUA (não sendo exagero dizer-se que, por tal razão, foi uma figura histórica de impacto mundial na nossa actual mundividência), tinha práticas desprezíveis e inaceitáveis.
Ora, o que é isto senão a riqueza da História e das estórias, que vão moldando o mundo ao correr das décadas? Ao retirar-se a estátua de Thomas Jefferson da assembleia legislativa de Nova Iorque, o que é que os cultores do cancelamento estão a fazer? É verdade que estão a afastar alguém que foi intrinsecamente contra os negros e que virtualizou a escravatura, mas não é menos verdade que estão a secundarizar quem, simultaneamente teve um papel absolutamente ímpar na História. A cultura do cancelamento luta as mais das vezes por ideias certas (igualdade, mobilidade social, fim das discriminações, etc.), mas fá-lo de maneira profundamente errada e, de resto, alinhada com o ar destes tempos de bipolarização (a favor ou contra), maniqueísmo (bem ou mal) e facilitismo (é mais fácil proibir e esconder do que educar, explicar e problematizar). Exemplos destes temo-los aos milhares por esse mundo fora e, por aqui, já há quem também queira retirar os painéis do salão nobre da Assembleia da República .
A retirada da estátua do Jefferson fez-me pensar no seguinte: a continuarmos assim, ou acabamos com todo e qualquer vestígio do nosso passado - mas, se for o caso, temos de ser radicais para sermos congruentes: acabamos com o bom e com o mau, não deixando pedra sobre pedra, porque afinal de contas por que motivo se havia deixar apenas o que alguns defendem? e quem decidiria? -, ou começamos a fazer acompanhar cada estátua, pintura ou construção mais "duvidosa" de uma explicação enquadradora para não ferir espíritos mais sensíveis.
Uma sugestão: e porque não aceitarmos a História tal como ela é (sem prejuízo de recusarmos liminarmente as práticas que no passado existiam e que a evolução dos tempos mostrou serem ignóbeis), explicando-a, problematizando-a e chamando à discussão os temas fracturantes, sem, contudo, a rever e apagar consoante o ar dos tempos?
17.10.21
Deamblogações nocturnas
Chega-se a uma altura em que a vergonha ultrapassa a coragem da criatividade. Ou melhor, acho que isto acontece a tipos como eu que se acobardam à idade e ao estatuto (?). Tudo, às tantas, é medido em termos de idade e experiência, como se o decurso dos anos equivalesse à perda de liberdade criativa e à irresponsabilidade sadia. Na verdade, eu acho que o que custa mais é apercebermo-nos de que há muita gente por aí com vintes e tais que já tem capacidade crítica de nos julgar e arrumar de acordo com o que pensa. Porque pensa, sim, e tem opiniões e capacidade de as defender. Quando digo que custa, não estou a dizer que não devesse ser assim - ainda que bem que é - mas apenas que é lixado tomar consciência disto. É como se ficássemos (ainda) mais transparentes perante os outros. Só isso.
Quantas vidas são vividas a cada instante por pessoas que, um dia ou outro, nos dizem alguma coisa e que, até aí, nunca conhecemos.
8.10.21
Deamblogações vespertinas I
Há tantas coisas que queria ter como tantas outras de que queria desfazer-me. Há tantas emoções que gostaria de reviver como aquelas que gostaria de repelir.
É mesmo assim. Siga.
3.9.21
Deamblogações vespertinas
E assim, e como de costume, vem tudo ao mesmo tempo, Setembro é sempre igual a si mesmo, não desilude nem espanta. São inscrições, reinscrições, planificações, programações, organizações e a despedida de um tempo feliz. Ou por outra, não sei se é mesmo um tempo feliz, mas um tempo a que se convencionou chamar feliz. O Verão é, de facto, um tempo mais ligeiro do que o resto do ano, marcado por uma certa atenuação - que nem sempre é concreta - das obrigações, dos horários, das rotinas. Mas há igualmente encanto nas restantes estações do ano, embora sejam, com excepção da Primavera, alturas de maior recolhimento e menor expansividade.
Com tudo o resto, chega também a nostalgia de mais um período relaxado, de uma preguiça adiada por tantos meses, agora ela também adiada por quase um ano. Para quem tem filhos adolescentes, essa nostalgia é agravada pelas despedidas que se lhes vê fazerem uns aos outros, voltando às suas vidas interrompidas por um fugaz período de tempo. Vem aí mais um ano de trabalho, de responsabilidades, de afazeres, de pouca complacência com a vontade de inércia.
É, pois, o momento certo para questionar se queremos mais onze meses de chibatadas nas costas ou se nos vamos conceder um pouco de calma e oxigénio. Agora é o momento para isto, não o dia 1 de Janeiro, tão cheio de vacuidade e de promessas vãs e sem sentido. Façamos por isso com coragem e determinação.
22.8.21
De regresso ao inverno dos tempos
No regresso aqui, em pleno Verão, há uma sensação de voltar ao Inverno, o microclima impondo-se sobranceiramente, sem mais nem quê. Não é fácil conviver com isto, mas é uma espécie de aceitação das coisas tal como são, sem questionar no que poderia ser se não fosse isto ou aquilo. Não. Aqui é mesmo assim: Verão é Verão mas tão diferente do Verão que nos habituámos a considerar ao consultar o calendário. Vindo de um arquipélago que quase não experimenta estações, caio na coisa de não saber como vai ser amanhã, e, quase pior, não ter ideia de como desenvolve o dia, se calhar nem o fim da tarde vai ser tão bom quanto a tarde que foi magnífica como "só aqui". Aliás, este "só aqui" é quase tão arrogante como o "vai abrir", tão cheio de certezas de quem cá passa Verões "desde sempre". Sim. É isso e o controlo do mundo, tudo igual. Não há controlo nenhum, diga-se, anuncie-se, para quem não sabe e pensa que, pelo contrário, tudo é controlável porque sim. Puto.
Não. Aqui é foda, como dizem os brasucas, não dá para querer o calor do Verão, do "nosso Verão" (?), como sempre nos foi apresentado no calendário e nos anúncios de agências de viagens, talvez, até, com imagens de outras paragens, Turquia? Grécia? quem sabe?, jurando corresponder ao sentimento colectivo de um período vivido igualmente por todos. Que estupidez... Pois agora estou aqui, neste sítio tão paradisíaco quanto refrescante em pleno Agosto. Que o seja, pois sim. Amanhã vemo-nos na praia. Se estiver sol. Não sei. Talvez. Se estiver sol. Não dá para dizer "bebemos um copo ao fim da tarde", porque esta expressão "ao fim da tarde" tem um sentido pouco unívoco por estas bandas. Nunca se sabe se se bebe um copo ou se se bebe um chá com erva, perdão, com ervas, bem quentinho para contrabalançar o frio, melhor, o desconforto da temperatura ambiente.
Bom, enfim, amanhã vemos. Aliás, vemos todos os dias. Porque não controlamos. Nunca controlamos. Nem mesmo se aqui vivermos "há 500 anos". Não dá. Não é assim.
14.8.21
Meu querido, as saudades que tenho tuas são demasiado grandes para pôr por escrito. As saudades que tenho da Vida que vivemos tantas vezes, fisicamente e não fisicamente são para lá do contável. Existe contável? Que se foda, existe contável, foi o que me veio à cabeça.
O que eu te adoro, o que eu te amo, as saudades que tenho tuas. As saudades que tenho do que me ensinaste. Não apenas sobre música e sobre arte, mas sobre a Vida. Meu querido filho, as saudades que tenho do que me ensinaste sobre a Vida, sem nunca mo dizeres... Vivo contigo no meu coração sempre e a todas as horas, mas custa-me muito não te ter aqui fisicamente presente a ensinares-me o que quero aprender por mim e não consigo. Ó meu amor... neste momento não consigo escrever mais. Apenas sentir as horas e horas ganhas a viver contigo. Que maravilha que foi. Que é.
Toma, para falarmos depois:
When I read the letter you wrote me, it made me mad mad mad
When I read the news that it told me, it made me sad sad sad
But I still love you so
I can't let you go
I love you
Oh, baby I love you
do Led Zeppelin
Isto é alegria, mas é verdade que não parece. Beijo, meu querido, até já.
13.8.21
Faites vos jeux
O cenário é sempre o mesmo. Filas de pessoas com as raspadinhas, totoloto, totobola, lotaria e o que mais exista para meter e ver se a sorte lhes sorri. Acontece é que a sorte muito raramente está para aí virada e nunca lhes sorri. Aliás, a sorte, que é uma eterna aliada de quem gere o jogo, sorri mas não a quem gostaria de receber o seu sorriso. Sorri à SCML que é a entidade concessionária deste tipo de apostas. A essa sorri de boca escancarada, mostrando os dentes brancos e bem escovados. Aos restantes, àqueles que nele apostam a pensar que é desta que lhes sairão uns cobres, mostra que, por debaixo da dentadura alva e novinha em folha, se escondem uns dentes podres, cariados e mal-cheirosos.
Eu confesso que me sinto na fila da sopa dos pobres, embora, felizmente, por engano. Vou com os jornais debaixo do braço (coisa menos do que rara nestes tempos) e tenho de ficar à espera uma eternidade para que os jogadores joguem, metam as apostas, raspem, paguem e resmunguem. No fim, têm sempre um brilhozinho nos olhos de esperança, como se desta é que é, agora é que vai sair, nas outras milhares de vezes perdi sempre mas agora tudo vai mudar e um lampejo de bom augúrio é tudo o que preciso para ficar rico.
Pobres. Sobretudo de espírito. Não, não ficarão ricos nem a sorte irá sorrir-lhes. Pelo contrário, a sorte sorrirá - aliás, já sorriu porque já lá entrou o dinheirinho das apostas - à SCML, como sempre, a qual, mesmo depois de pagar os poucos prémios que saem por esse país fora, continuará com os cofres cheios de euros à conta dos pobres. Talvez agora, com parte a ir para a conservação do património, não estejam tão cheios como já estiveram, mas mesmo assim.
A mim faz-me confusão e sinto, para além de pena, uma enorme revolta que não consigo bem explicar. Revolta porque é tão evidente que aquelas pessoas estão enganadas sobre o seu próprio destino como é verdade que o sol nascerá amanhã outra vez. E como é que não sabem isso? Como é que não percebem que mais falta lhes faria ler um jornal do que apostar numa raspadinha? Como é que não sabem que mais importante seria irem a um museu do que jogarem no loto? E, dentre toda essa gente, quanta fará contas ao que gasta semanal, mensal e anualmente no jogo? Quantos euros poderiam estar a ser canalizados com maior proveito?
Eu hoje não aguentei e descarreguei sobre a senhora do quiosque. Como é possível que quem queira comprar um mero jornal tenha de se sujeitar a minutos intermináveis na fila por causa dos agarrados ao jogo? Como é possível que não dêem prioridade a quem não demora mais do que 45 segundos a aviar-se e dar lugar ao próximo?
Enfim, é assim mesmo. Diz-me o grilo para estar calado e não deixar de comprar os meus jornais. Não são uns minutos de espera e incompreensão que poderão fazer mossa no que tive a sorte de aprender de pequeno e que, depois de muitos euros gastos sim ao longo da vida, me ajudou a capitalizar o, ainda que pouco, conhecimento que vou tendo do mundo que me rodeia.
Alea jacta est.
11.8.21
Será que pega?
Há um ano e meio que interrompi o que é, mais do que tudo, uma carolice, talvez sem sentido. Quer dizer, sentido tem porque nunca quis divulgar as minhas deamblogações a não ser por alguns amigos que foram fazendo o favor de as ler ao longo dos anos, sendo que as carolices de cada um têm o sentido que os mesmos lhe querem dar, sem mais nem quê. Não é preciso uma justificação, apenas vontade que, aliás, se esgota em si mesmo. Mas chegou um momento em que deixou de fazer sentido fazer uma partilha que, durante anos, teve muito de solitário. Talvez porque, entretanto, também me tenha tornado menos solitário e perdido essa vontade quase intestina de expor, ainda que com mesura, o que me ia na alma.
Ando, no entanto, com um rato a roer cá dentro que vai roendo e roendo ao mesmo tempo que sussurra qualquer coisa que me atrai para aqui. Isto é diferente das redes sociais, das quais não gosto e nunca me atraíram. Há qualquer coisa aqui de passado, como se fosse bastante fora de moda escrever ideias, pensamentos, estados de alma, sem direito a contraditório e a achincalhamento. Não tenho pachorra para isso, nem me dou ao trabalho e sacrifício. Prefiro os meus dez seguidores (se calhar, nem tantos), a quem confio o bom senso, não de concordarem comigo, mas de respeitarem o modo como partilho o que aqui vai.
Muitos deles tentaram persuadir-me a divulgar o Peremptório (só o nome, passado ano e meio de não me confrontar com ele, já me parece de há 200 anos... ainda em português arcaico, com pê e eme) através dos mecanismos de propagação de conteúdos que existem actualmente, mas francamente não só não os conheço, como não tenho pachorra para os procurar. A única forma que conheço é fazer um link qualquer no LinkedIn (que tenho, sim) - embora recuse atribuir estados de alma à profissão - ou dizer por email que cá estou. Quanto a este último meio, acho bastante ridículo enviar um email à minha gente a dizer "pá, vejam o meu último post", só a ideia me confrange. É como escrever no jornal um artigo e divulgá-lo nas redes sociais para auto-promoção. Conheço quem o faça, mas recusei sempre essa prática que, imageticamente, relaciono com uns bicos dos pés telemáticos. Antes os meus dez seguidores (se calhar, nem tantos). Nada de mais. Bem posso chorar sozinho, mas prefiro isso a estar mal acompanhado pela horda de hunos que saltam barricadas internáuticas por aí como se fossem invadir um novo território, ocupá-lo e aí procriar que nem coelhos. Deixá-los para os FB, instagrã e caixas de comentários espalhados aos milhões. Aqui não entram. YOU SHALL NOT PASS!!!
Dito isto, talvez seja desta que o motor volta a pegar. Talvez. Não garanto. Mas tenho saudades. Lá isso tenho.
19.11.19
Deamblogações nocturnas
Ontem, o que eu vi e ouvi só pode descrever-se de uma forma: SUBLIME.
Arrepiei-me, comovi-me, reflecti, viajei, meditei e estive, só, sem mais, naquela sala mágica onde aconteceu o que jamais esquecerei.
Como disse o meu amigo Miguel, são coisas destas que dão sentido à Vida.
21.10.19
Escritos
Numa palavra: triste. Em duas: muito triste. É assim este Joker. Triste mas fabuloso, numa interpretação cheia de Joaquin Phoenix. É repulsa que se sente por aquela solidão, miséria social e humana, desgraça, falta de esperança, desumanidade, crueldade, falta de graça. Tudo ali é hiperbólico, a começar e a acabar no riso paranóico, consequência de uma doença nervosa, tão contraditório que é.
A maldade não foi a origem, antes a consequência de tanto sofrimento sem ver uma luz por pequena que fosse.
O punchline não pode senão ser um tiro disparado de um revolver do tempo da guerra ao soco. Talvez acerte só numa parede, mas já é um começo...
15.10.19
27.8.19
Escritos
The End, Karl Ove Knausgaard
7.8.19
Escritos
Todos os dias aparecem bons artigos, alguns científicos e outros de opinião, sobre medidas a tomar para combater o que parece inelutável.
Quando a confusão é demasiada, tal como sucede quando não sabemos o que escolher dentre várias possibilidades, devemos perceber o que não queremos. Saber o que não queremos é, de facto, o primeiro passo para a escolha acertada. Eu não sei que comportamento adoptar quanto ao ambiente, mas sei que não quero ignorar este problema. Sei que não devo fazê-lo, mesmo que isso não mude absolutamente nada em termos climáticos, e isso tem consequências: tentar perceber cada dia mais, tentar identificar o que é correcto e incorrecto, adoptar atitudes mais amigas do ambiente e responsáveis para com o planeta.
Já quanto ao cenário político, a coisa é (também) especialmente complexa. As ideologias estão de gatas e pouco há para debater . O assunto tornou-se de certa forma mais rasteiro: em vez de debatermos se queremos a opção A ou a B, temos é de combater quem quer contaminar tudo e todos com fake news e pseudo-notícias que mais não são do que propaganda voluntária e milimetricamente dirigida. Existe um ataque global que importa denunciar e ao qual temos de estar atentos para podermos combater com as armas que temos. Quais são elas? Adoptar, antes de mais, comportamentos defensivos como sair das redes sociais mais expostas (FB, Instagram) e limitar a entrega de dados pessoais (cartões bancários, GPS, moradas, etc.). Por outro lado, estarmos informados, ler, pensar, escrutinar, questionar, estranhar e divulgar na medida do possível o que nos parece mal, tanto como as boas alternativas.
Eu sei muito bem que isto parece conversa da treta e com alguma maluquice à mistura. Aliás, visualizo enquanto escrevo a personagem Travis Bickle do Taxi Driver... Mas infelizmente não é maluquice alguma. É chegado o momento de lutar.
Precisamos é, primeiro, de ganhar consciência disso e, segundo, de saber como fazê-lo.
19.7.19
9.7.19
27.5.19
17.5.19
10.5.19
9.5.19
Escritos
It only takes a reminder to breathe,
a moment to be still,
and just like that,
something in me settles, softens, makes space for imperfection.
The harsh voice of judgment drops to a whisper
and I remember again that life isn't a relay race;
that we will all cross the finish line;
that waking up to life is what we were born for.
As many times as I forget, catch myself charging forward without even knowing where I'm going,
that many times I can make the choice to stop, to breathe, and be,
and walk slowly into the mystery.
Danna Faulds
22.4.19
27.3.19
Escritos
Não está em causa a desgraça que o Brexit possa ser, tão pouco a inabilidade com que Theresa May tem lidado interna e externamente com o assunto, o que está em causa é, uma vez mais (vide repetição de consultas referendárias aquando da aprovação POR TODOS do Tratado de Lisboa), a ingerência das cúpulas europeias no poder decisório interno de cada um dos países que compõem a UE.
É perfeitamente legítimo que a Europa exerça pressão sobre o RU, tanto ao nível formal das negociações, como táctico das declarações, notícias, etc., mas há limites: o apelo expresso em jeito de chantagem infantil (vocês têm todo o direito de votar nas europeias porque são muitos a expressarem a vontade de se manterem na UE e o Governo não pode coarctar-vos esse direito) é, para além de ilegítimo, intolerável. A UE tem de respeitar as regras internas de cada país. Existem matérias decididas externamente em conjunto e matérias decididas internamente a título individual. Estas últimas constituem um direito inalienável - pelo menos enquanto não houver uma decisão conjunta para ser diferente - de cada um dos países que compõem a UE, a qual, por muito que custe, tem de respeitar.
Estas demonstrações de poder e soberba são, simultaneamente, símbolo de fraqueza, impreparação e irresponsabilidade. Os actuais líderes europeus são fracos, fraquíssimos, e só ajudam a cavar mais o buraco já de si enorme que existe entre quem está contra a UE e quem crê, ainda, que constitui o menos mau dos caminhos possíveis para uma sã e próspera convivência.
15.3.19
Escritos
É das melhores e mais antigas memórias que guardo: as leituras do Eanito pelo meu pai, quando eu era pequeno. Os livros do Augusto Cid - todos eles, não apenas este - fascinaram-me durante muitos e muitos anos e contribuíram decisivamente para ganhar consciência política e perceber um bocadinho melhor o que se vivia em finais dos anos 70 e início de 80. Depois houve Camarate e a luta sem tréguas nem quartel que ele travou por provar que se tratara de um atentado e não de um acidente. Escreveu livros, esteve em várias CPI's, ajudou as famílias, apoiou, discutiu, debateu e acabou frustrado pela máquina compressora do diktat. Fazem falta os Cid's.
"Na posse rir que fique feie"
14.3.19
20.2.19
8.2.19
Deamblogações matinais
The problem with real conversation, one high-school senior told her, was that "it takes place in real time and you can't control what you're going to say".
Financial Times
Food for thought.