Agora que a Netflix perdeu o estatuto de estrela do streaming e está em lenta queda em favor de tantos (demasiados?) seus concorrentes directos, ali encontrei uma série tão obrigatória quanto indigesta e difícil. Bom Dia Verônica é, num primeiro momento, sobre a violência doméstica mas é muito mais do que só violência doméstica. É também sobre as teias da corrupção no Brasil, o que lentamente vai emergindo, à medida que a primeira temporada (num total de duas) se desenvolve.
Mas se a questão da corrupção no Brasil é um tema algo esfalfado de tão tratado em filmes e séries, a forma como se chega lá é simultaneamente magnífica e difícil. Trata-se de uma série física e psicologicamente muito violenta, tão violenta que me aconteceu ficar incomodado e com a sensação de não querer continuar a ver o episódio, mas algo me foi impelindo a não desistir, como se de um dever se tratasse. Porque a questão da violência conjugal - e também da violência de género, que se sobrepõe - é aqui retratada de uma maneira quase real (julgo) e sem subterfúgios estilísticos. Daí o incómodo.
Há uma protagonista - Verônica Torres (Tainá Müller) - mas que não é heroína nem super-mulher (só ainda vi a primeira temporada e admito que isso possa mudar na segunda, não sei). Pelo contrário, confronta-se, quase sempre a perder, com o lado obscuro da política e das políticas que tudo controlam em prol de benefícios escondidos e que vão empobrecendo a sociedade não apenas financeiramente como em termos de valores.
Que grande surpresa este seriado. E que grandes representações de duas ou três personagens. Dei por muito bem empregues as horas que me levou a ver os 8 episódios da primeira série. Assim seja com os 6 da segunda.