5.3.16
Escritos
Conheço Madrid desde muito novo, já que por razões de saúde tive de me tratar lá durante vários anos quando era pequeno. As imagens da cidade que fui consolidando com o passar dos anos foram sempre as de uma cidade grande, com coisas de uma monumentalidade inexistente em Lisboa (onde sempre vivi), confusa, caótica mesmo em alguns locais, cheia de gente e gente que fala aos berros e descomplexadamente, com lojas - sempre as lojas - grandes e cheias, com movimento nas ruas e nos restaurantes e cafés. Lembro-me de em pequeno ir tomar o pequeno almoço sempre ao mesmo café e ficar espantado com o movimento já àquela hora matutina e todas as pessoas a falarem alto umas com as outras, a discutirem política e futebol, a fumar muito e a beber café em chávenas de chá. Todo um universo diferente daquele a que estava habituado, Também me lembro de ir ao cinema e ter de gramar com os filmes dobrados, o que me dava cabo dos nervos, mas serviu para eu perceber por que motivo aquela gente falava (e fala) tão mal inglês e, em geral, línguas estrangeiras, mas também para sentir aquele orgulho nacionalista e verdadeiramente diferenciador de todos os outros. E também me lembro de passear no parque do Retiro e encontrar uma calma contrastante com o resto do bulício lá de fora, algo que também me fazia confusão tamanha era a diferença de ritmos.
Isto para dizer que acabo de chegar de Madrid, onde estive alguns dias com os meus filhos, durante os quais pude reviver todas estas sensações que permanecem quase intactas. Notei diferenças em pouco tempo que são bem visíveis: muitas bicicletas de uso partilhado, muita gente equipada a fazer jogging pela cidade, alguns carros também de uso partilhado. Mas, de resto, tudo mais ou menos na mesma: uma diferenciação quase sem igual entre os diversos bairros, um trânsito caótico no eixo Gran Vía - Castellana, muito e muito comércio bem activo e romenos q.b. a pedinchar. No topo, a já mencionada monumentalidade: "ó pai, é tudo maior do que em Lisboa". É isso mesmo, é tudo bem maior, bem mais largo, bem mais tudo. Para o melhor e para o pior. Perguntava-me o meu filho mais novo, na sua inocência adequadamente irresponsável, porque é que eu não ia viver para lá. Respondi-lhe que não porque não gostaria. E não gostaria, de facto. Mas gosto de lá voltar. Sempre.