22.1.16

Deamblogações vespertinas



Se uma imagem vale mais do que mil palavras, uma campanha como aquela a que temos assistido vale mais do que todas as outras juntas, sejam elas presidenciais, legislativas ou autárquicas.
Na verdade, nem sei bem ao que temos assistido, ou pelo menos ao que eu (não) tenho assistido (e se calhar é exactamente por isso que não sei...) porque, entre arruadas fracassadas, perguntas a funerárias sobre se o negócio vai bem, comoções um pouco estéricas, salas vazias, risos e poses próprios de comediantes e auto-elogios sobre ser-se o arauto de um tempo novo como se de um recém-nascido se tratasse (e penso que não deixei ninguém relevante de fora), tudo valeu para não se dizer nada ou muito pouco. Porque, na realidade, todos sentem que esta campanha veio num tempo em que está toda a gente realmente cansada de eleições, de políticos e das suas vãs promessas. Porque todos já perceberam que, vá seja quem for ocupar o Palácio de Belém, o entendimento que tiver da Constituição será sempre condicionado pelas condições governativas, as quais são por sua vez condicionadas pelas condições externas existentes. E, portanto, todos sentem - talvez erradamente, mas enfim - que esta eleição tem um reduzido alcance e um efeito ainda menor. E isso não deixa de ser preocupante. Porque esta eleição merecia ter tido um outro enquadramento, merecia ter tido discussões acirradas sobre o papel do Estado, do Governo e do próprio PR enquando moderador do nosso sistema. Um PR com um Governo como o actual desempenha um papel muitíssimo importante porque, sim, pode e deve ser um moderador do próprio Governo e dos partidos de esquerda que o apoiam (apoiam?). E é nesse sentido que não é indiferente, nada indiferente, quem seja eleito, porque devem esperar-se coisas diferentes de Marcelo, de Sampaio da Nóvoa ou de Maria de Belém, para só falar aqui de quem tinha expectativas de chegar ao lugar. Mas como não se discutiram ideias e como Marcelo, como alguém dizia, se fez de morto durante todo este tempo (no que, aliás, considero mais uma prova da sua inteligência), desconheço o que Marcelo irá fazer como PR, como irá ele desempenhar o seu papel de moderador e árbitro. Quantas vezes apitará e quando o fará. Idem aspas para qualquer dos outros dois.
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, ver um man de cigarro, cerveja, bóina e tatuagem à el comandante no braço a abraçar Marcelo, significa que nada disto faz muito sentido. Nem Marcelo se candidatar a PR (como sempre achei), nem o PS não ter unido o apoio à volta da mesma personagem, nem aparecerem ex-padres, ex-calceteiros, ex-médicos e ex-psicólogos a disputar a eleição ao mais alto cargo do país.
Ou, pelo contrário, tudo isto faz, afinal, sentido e eu é que não vejo? É bem provável, de facto.