10.10.15
O leão ou o rei (?) da macacada
Eu cá acho que António Costa está a fazer-se caro para passar a mensagem de que é duro e sabe o que quer, quando na verdade, bem lá dentro, está aflito e completamente à toa com o que lhe aconteceu e ao PS.
Conversar com todos os partidos é próprio de uma pose de Estado do tipo querer parecer que se está a trabalhar arduamente numa alternativa credível, séria e duradoura para o país. Mas nada disso está verdadeiramente a acontecer. Costa levou uma sova como nunca imaginou nem nos seus piores pesadelos e sabe que nunca, jamais, a maioria do PS lhe perdoaria se alinhasse à esquerda com PC e BE, ou com BE sozinho. Ou estará ele a pensar que o poderia fazer e contar com o PàF para co-aprovar as matérias relativas à Europa, aos compromissos internacionais do Estado português e outras quanto às quais o bloco PC/BE estão assumidamente contra? Se o faz, é ingénuo à quinta casa. Mas nem sequer acredito nesta tese. Acredito sim que está a tentar demonstrar uma força que não tem nem nunca teve. Enganou foi bem e durante algum tempo, mas rapidamente se mostrou incapaz de assumir a liderança. Entrada de leão, saída de sendeiro...
O pior disto tudo é que acho que o PS, com Costa à cabeça e os militantes de base no fim, está acossado, encostado à parede, demolido por uma derrota que ninguém de bom senso há apenas 3 meses conseguia prever. E quando se está nesse estado, normalmente ressabia-se e é-se incapaz de reflectir lucidamente sobre as questões. Amua-se e vem ao de cima o "perdido por cem, perdido por mil".
Ora, se isto for verdade, e oxalá não seja, fará muito mal ao país. Todos nós precisamos de um Governo minimamente estável, que esteja em condições de tomar decisões e reerguer um pouco, por pouco que seja o pouco, o estado em que isto ficou.
Costa mostra que é um líder a prazo, ridiculamente a prazo. Prometeu muito e conseguir próximo de zero. Creio, aliás, que se há eleições que ficarão para a História, são estas: a coligação não ganhou propriamente falando, perdeu e bem, os tais 700 e tal mil votos de que tanto se fala, mas foi o PS que perdeu mais: perdeu porque não ganhou, perdeu porque não conseguiu capitalizar a enorme confiança de que era depositário há escasso tempo atrás, perdeu porque demonstrou indecisão, desconfiança, desnorte, falta de sentido de Estado, ausência total de profissionalismo na forma como encarou todos e cada um dos assuntos que assumiu como bandeiras eleitorais. Foi Costa e, por consequência, todo o PS que perdeu as eleições. Foi dali que saíram votos para o BE, o PAN, mas também o PCTP-MRPP, o PDR, o Livre e até o PNR. Todos estes partidos, mesmo os não eleitos, ganharam votos não apenas à custa da coligação - fortemente penalizada - mas também do PS, que não conseguiu atrair nem sequer uma parte determinante para lhe servir a maioria, nem que fosse a relativa. E tudo isto é uma derrota estrondosa.
Não, Costa não aguentará muito tempo e espanta-me que se preste a este número de saber (e sentir) que está a prazo e, não obstante, manter-se no lugar, literalmente, como se não houvesse amanhã.
O problema é que há. E devemos todos nós esperar que seja melhor do que o ontem e hoje. Mas não com este PS porque a sua liderança é pouco mais do que miserável.
Isto não é fazer a apologia da coligação - que não tem apologia possível - mas sim ver as coisas como elas são. Não é interpretar, é ver. Com olhos e sentidos alerta.
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