12.6.15

Acordo ortográfico?! O quê?!...

Tony Bellotto tem várias caraterísticas que o tornam um tipo famoso: é, antes de mais, marido de Malu Mader, o que para mim significa uma enorme inveja (pueril, entenda-se!) já que foi a minha primeira paixão platónica, depois é vocalista dos Titãs e, finalmente, é escritor. Antes deste último livro, li dois ou três livros dele. Coisa ligeira, para entremear entre outros mais fundos. Há dias vi o que penso ser o último livro dele (aqui) e decidi comprar, precisamente nessa lógica de ler uma coisa ligeira e divertida em pouco tempo. Passados alguns minutos de ter começado a ler, apercebi-me de qualquer coisa anormal: reparei que havia palavras mal escritas à moda do AO, outras bem escritas (esta algaraviada passou, infelizmente, a ser normal nos dias que correm), mas, sem perceber bem porquê, não era isso que me incomodova. Passado mais um bocado, percebi então o que era: fui ao verso da segunda página e vi que o livro estava traduzido (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!). Reli: traduzido!!! (NOTA: apesar do nome, Tony Bellotto é brasileiro, pelo que escreve em... português. Isso mesmo, em português.) Pois estava traduzido, não me lembro por quem. Ora bem, esta tradução foi a primeira tradução que vi de português do Brasil para português de Portugal, numa tentativa ridícula - e absolutamente inglória - de adaptar para cá expressões brasileiras. Encontramos, assim, mimos do tipo: (cena em que duas das personagens são apanhadas por polícias a traficar droga) "Foge cara! Os bófias estavam mesmo a galar-nos! Manda essa maconha pró chão!". Isto é uma pequena amostra, já que o livro está cheio disto.
Se eu bem me lembro - e acho que lembro -, uma das intenções do AO era a de uniformizar a língua portuguesa, com a magna vantagem (diziam os seus defensores) de, entre outras coisas, evitar edições dúplices, nomeadamente em Portugal e no Brasil. Mas, o que eu vi aqui, foi - bem pior do que uma tradução - uma junção (ridícula a todos os títulos) de expressões brasileiras (originais) e portuguesas (traduzidas), no que ficou um texto muitas vezes incompreensível, para além de retirar todo o gozo da leitura.
Eu, na verdade, não sabia que coisas destas existiam, se calhar por muita ingenuidade. Lembro-me, mais pequeno, de ler Jorge Amado e detestar "aquele" português, mas isso era bom porque preservava a língua e o espírito com que o autor havia escrito aquilo. Quem terá estas ideias absolutamente fantásticas de reescrever um livro à laia de uma (péssima) tradução que, de resto, não é de todo necessária?! Não existem revisores? Não existe um conselho editorial?! Não existe bom senso?!
Não. A conclusão é que não.