13.10.14

Deamblogações vespertinas


Se vivêssemos num país normal e, talvez mais ainda, se vivêssemos tempos normais, eu rir-me-ia às gargalhadas da personagem Marinho e Pinto (MeP). Porque é gordo, desbragado, arruaceiro, muitas vezes mal-criado, calunia, fala alto, faz afirmações patéticas, enfim, tudo coisas que dariam para rir, repito, se vivêssemos num país e num tempo normais.
Mas não vivemos. Vivemos em Portugal, numa altura de crise profunda não apenas no nosso país, como também (e talvez sobretudo) na Europa. Num tempo em que palhaços como Beppe Grillo, extremistas mascarados de institucionalistas como Marine LePen e extremistas assumidos como Nigel Farage são democraticamente eleitos para instituições europeias. Num tempo em que o Movimento Partido da Terra consegue eleger pela primeira vez na sua história um euro-deputado (MeP) que, mal foi eleito, decidiu virar-lhe costas e tornar-se independente, para poder criar um partido que, no país, irá muito provavelmente combater o partido que lhe permite - agora! - estar a ganhar 20 mil euros por mês... Que absoluta vergonha!
Nunca gostei desta personagem. Comecei a notar a sua incómoda existência quando a mesma era presidente da Comissão de Ética da OA e andou às cabeçadas a José Miguel Júdice, então bastonário da Ordem. Aquilo que dizia, como dizia, eram profundamente incómodos. Não porque fossem verdades há muito escondidas ou qualquer coisa do género como a personagem tanto gosta de dizer e fazer crer, mas porque sentia verdadeira vergonha alheia por ver um colega com responsabilidades na, mal ou bem, minha Ordem dizer inanidades atrás de inanidades com um ar professoral e de supremacia moral. Pouco tempo depois, pude confirmar esta constatação quando assisti à sua candidatura a Bastonário e, francamente, não pude deixar de me espantar com a vitória que obteve e que muito contribuiu para desacreditar a Ordem dos Advogados perante a opinião pública. Mesmo entre os advogados, eram - são - muitos os que, dotados de bom senso, não alinham na conversa dos descamisados e sem-terra que MeP tanto gosta de exibir.
Não se trata do conteúdo do que diz. Há coisas ali no meio que são verdade. Também há alturas em que consigo reconhecer-lhe alguma coragem disruptiva para cortar a direito. Mas na realidade tudo isso são partículas, apenas partículas, entre o todo grosseiro e selvagem do que diz e como o faz.
Ele, BeP, que introduziu recentemente no léxico político o termo striptease, tão ao seu gosto, tão grosseiro e pouco charmoso quanto o seu autor. Tinha mesmo de ser ele, que o usa contente e orgulhoso dessa sua marca tão, diria, escatológica.
Só que, como tudo na vida, sobretudo nesta vida em que muito poucas coisas são pretas ou brancas, vai a ver-se e o homem cai à primeira, soçobra perante o que alarvemente grita a plenos pulmões. Que precisa do que ganha para viver condignamente, que 4 mil e tal euros não é muito para se viver em Lisboa, que não tem bens, que renunciará a parte do que ganha em Bruxelas (ele disse mesmo isto?...), que a OA e o facto de ter sido bastonário são assuntos de natureza privada (já agora, esclareça-se que não são), que tem um partido já constituído (esclareça-se que não tem ainda), etc., etc.
Esta personagem que tenta enganar tudo e todos vociferando com a sua voz tonitruante que é impoluto, que está moralmente acima dos outros, que vai moralizar a classe política, enfim, que isto e que aquilo... afinal é igual ou pior dos demais.
Eu envergonho-me (talvez desnecessariamente, admito) pela existência destas personagens. Na verdade, as mesmas não me fazem rir, nem um bocadinho. Não consigo achar-lhes graça, mesmo que o ridículo, como é o caso, seja deste calibre.
A mim BeP incomoda-me e isso eu sei que ele gosta. Incomoda-me por ele, por aquilo que representa e pelo mal que faz a uma sociedade que se vê a perder todos os dias um pouco do bom senso que tinha no passado e se deixa enganar por quem grita infâmias e calúnias, por quem usa de malícia naquilo que diz e faz, por quem não demostra muito respeito pela verdade. A mim isso incomoda-me. Antes um palhaço a sério.