13.9.14

Deamblogações matinais II

Não costumo ler os comentários dos artigos dos jornais electrónicos, mas houve um, com o qual me cruzei completamente por acaso, que me chamou a atenção. Sobre um texto do Vítor Belanciano acerca dos U2, diz o seguinte:
"DJ's das festas ao por - do - sol, "sets" carregados em mac's para intermináveis loops de batidas gastas, o sampling da house music que ficamos com a sensação já ter ouvido um milhão de vezes. Isto para não falar dos "next big thing" que deixam de o ser à terceira gravação, ou dos tesouros deprimentes perdidos algures nos anos 80 e 90 do século passado, desenterrados por arqueólogos musicais da moda. Tudo isto é monótono e risível para quem descobria as obras de Coltrane ou Miles Davis; Pink Floyd e Radiohead; RHCP e os Parliament; Pearl Jam e Led Zeppelin; Chico Buarque e Tom Jobim; Prince e Massive Attack; Pavement e Television. E que ouvia U2, Queen e Bowie, sem preconceitos. A geração Spotify, ou os jovens adultos do sunset não amam nem odeiam estes artistas: não há tempo."

A pertinência do comentário está em focar esta voragem do tempo actual, no qual colocar a girar um disco ou cd e ficar a ouvi-lo de fio a pavio é uma actividade tão estranha quanto lavar os dentes com um piaçaba. Mas mais: em que a malta não tem, de facto, nem tempo nem paciência, nem cultura (nem aptidão para essa cultura), para se interessar por ouvir música, sem a descartar num orgásmico e descartável "gosto" ou "não gosto" que, inevitavelmente, se esgota quando a erecção tiver passado.