20.4.14

Take 1: chegamos à Costa e é de noite. A casa dos ingleses cresceu e anexou, parece, a do lado e ao lado dessa há uma outra nova. Acho que foram os Quintas que se mudaram para lá. Em ambas há luz e vive-se um ambiente confortável lá dentro. Abro o portão de nossa casa, fria, vazia, inerte como a morte. Vou a entrar e tenho medo. Chamo por ti. E tu vens. Como vieste sempre.

Take 2: jogo ping pong com P. e R., como fizemos milhares de vezes. Não há a cor de outros tempos, há um pó de cal que parece inundar tudo. Tiramos a mesa da garagem e montamo-la. Ao fim de pouco tempo vejo que tenho de ir e quase não há jogo. Arrumamos a mesa e vamos embora. No caminho da sala, vejo as paredes de casa esburacadas, tudo está decrépito.

Take 3: chego ao quarto e vejo-te. Tenho de ir e abraço-te. Percebes que estou triste e perguntas se tenho vergonha. P. e R. entendem o que queres dizer e, discretos e silenciosos como sempre, saem, deixando-nos sós. Agarro-me a ti a chorar convulsivamente.

Take 4: sentados junto à minha mesa de cabeceira, estou aninhado a ti. Queixo-me da vida e do pouco tempo que temos para estar.

Acordo e percebo o sonho. Dói-me a alma. Por vezes as saudades doem. Doem fisicamente. Há vezes em que ainda não acredito no que se passou e como se passou. Tenho saudades tuas. Caramba. Tantas saudades.