"A mulher, porém, entornou a cabeça para trás e respirou profundamente o cheiro das árvores e da terra. Estendeu a mão no ar e na ponta dos seus dedos poisou uma borboleta.
- Ah! - disse ela - mesmo perdida, vejo como tudo é perfumado e belo. Mesmo sem saber se jamais chegarei, apetece-me rir e cantar, em honra da beleza das coisas. Mesmo neste caminho que eu não sei onde leva, as árvores são verdes e frescas, como se as alimentasse uma certeza profunda. Mesmo aqui a luz poisa leve nos nossos rostos, como se nos reconhecesse. Estou cheia de medo e estou alegre."
Sophia de Mello Breyner, Contos Exemplares, A Viagem