15.1.14

Deamblogações matinais


É evidente que muito se tem falado já sobre a reacção de Ronaldo ao receber a bola de ouro há dois dias atrás e de como isso mostra o seu lado humano e frágil que, afinal de contas, todos nós temos. Isso é verdade e não há nada a dizer. Mas...
Sim, mas. Mas o estatuto de Ronaldo (e entendo por estatuto a sua fama, o seu carácter, a sua determinação, o seu espírito vencedor, o facto de não ser a primeira vez que ganhou o prémio, entre outras coisas), obrigavam-no a ter tido outra reacção, ou melhor, a dominar melhor a reacção que teve. É mais isso. Podia, obviamente, comover-se e mesmo chorar convulsivamente (pelo menos teria deitado tudo cá para fora), mas depois agradecia a todos os que merecem o seu agradecimento. E, quanto a mim, nesse lugar contam-se em posição privilegiada Messi e Ribéry. Teria sido no palanque, após ser anunciado como o vencedor do ano, que Ronaldo poderia ter dado uma enorme bofetada de luva branca a todos os seus detractores (e foram muitos por esse mundo fora), assumindo-se não apenas como o melhor futebolista mundial de 2013, mas também como um verdadeiro senhor. Pus-me a imaginar Luís Figo naquela mesmíssima posição e não duvido por um instante do que teria dito e da forma como o teria feito...
Ao chorar e demonstrar-se incapaz de dizer mais do que meia dúzia de palavras, é verdade que Ronaldo mostrou que é humano, mas também mostrou que é (ainda?) miúdo e não tem, talvez, a maturidade que se lhe atribuía. Talvez esse erro de análise advenha do facto de Ronaldo ter, mais do que qualquer outro jogador português alguma vez teve ou tem, um conjunto de pessoas que com ele e para ele trabalha e que, desde a imagem aos sítios por onde anda, lhe vai traçando o caminho a percorrer. O próprio agradeceu "ao Jorge" (Jorge Mendes) e a "todo o staff" que o apoia e não é em vão que o fez.
Quando sozinho, num momento de uma intensidade esmagadora, não foi capaz de se aguentar e mostrar-se um senhor.
Enfim, valha-nos saber que, afinal, o que nos interessa mesmo é dentro do campo.