7.3.13

Deamblogações matinais

Existe um nível em que o entendimento das coisas é mais apurado, mais cristalino e mais imediato. É também mais sentido. Um nível em que não existe uma pré-compreensão ou a necessidade dela, em que a mente funciona pouco porque não há intervenção da razão. Um nível em que tudo, verdadeiramente tudo, faz sentido: o bom e o mau, o compreensível e o incompreensível, o que dá gozo e o que mete raiva, etc., etc. A esse nível nada acontece por acaso, embora nós, desatentos crónicos desta vida, tenhamos a arrogância de pensar que o acaso joga uma carta alta nestas coisas. É curioso porque ao mesmo tempo que cremos no acaso, também acreditamos que controlamos muitas coisas da nossa vida.
A esse nível, começamos a perceber que nem uma coisa nem outra. Isto não só não é o caos como a nossa acção nem tudo desencadeia ou explica.
Então o que é que acontece? Nada acontece por si só, tudo resulta do que já foi feito, que influencia o presente, que por sua vez influencia decisivamente o futuro. Isto não é determinismo, mas sim a escolha verdadeira e consciente feita em cada momento por nós e que vai moldando o que somos e queremos. Há uma sucessão de acções que desencadeiam por sua vez outras tantas acções futuras e assim sucessivamente.
A esse nível, o que os olhos vêem pouco interessa, assim como pouco interessa o que a cabeça pensa.