O doublethink orwelliano de que, por exemplo, JPP tanto tem falado a propósito da política portuguesa (a que, entre outras coisas, dá o excelente nome de "momentos-Chávez"), é, parece-me a mim, uma caracterísitca da política moderna.
Em Portugal são inúmeros os exemplos desse pensar e acreditar na contradição como se se estivesse a falar verdade (ainda que persista na mente de todos que existe uma contradição). Vejamos: não aumento dos impostos (sobretudo do IVA), manutenção das SCUTS, aeroporto da OTA como única opção economicamente viável, baixa do desemprego, aumento da produtividade interna, aproximação à média comunitária em diversos indicadores macro-económicos, melhoria genérica da qualidade de vida, sucesso nas políticas de combate aos incêndios (para o que se mostram números deste ano comparados com a média dos últimos 5 ou 6 anos...), etc., etc..
Tudo isto são exemplos de como o Governo e os media manipulam a informação, criando no espírito dos cidadãos uma realidade que na verdade não existe. Estes sabem que não existe, mas vão esquecendo a realidade e passando a acreditar em novas realidades ("WAR IS PEACE, FREEDOM IS SLAVERY, IGNORANCE IS STRENGTH").
O controlo tentado pelo Governo - de resto, não apenas o nosso Governo padece deste mal - é em muito semelhante ao que o Big Brother fazia com o seu "Ingsoc" no 1984 de Orwell. Só que não o faz através da opressão e da repressão, banindo o indivíduo em prol do Estado, mas sim através da sublimação do próprio indivíduo e do poder (poder?...) que este tem na sua própria vida. Daí a falta de regulação no sector bancário que permite a atribuição quase indiscriminada de crédito, o que traz consigo o conhecido sobreendividamento das famílias, a construção de vários estádios de futebol apesar do país estar em situação financeira precária, o apoio incondicional a tudo o que são iniciativas de congregação de massas, entre outros actos no mesmo sentido. O Estado cria no espírito do cidadão (que, ao contrário do que sucede no "Ingsoc", não perdeu a sua individualidade) que este é livre e soberano, que tudo pode e faz, distraindo-o ao mesmo tempo do que realmente importa e que acaba por o afectar indelevelmente (os assuntos europeus são disso um óptimo exemplo).
(continua)