Para quem gosta de música e tem algumas bandas fétiche - eu gosto muito, ouço muito e entre essas bandas fétiche tenho como maior "The Cure" - é sempre com muita curiosidade que se é brindado com preciosidades nunca reveladas ao público ou então com versões estranhas ou menos comuns de músicas que nos habituámos a ouvir sempre de determinada maneira (embora de cada vez se descubram quase sempre novos acordes ou sons).
Há alguns dias fiz uma incursão na Fnac e saí de lá com um saco cheio de livros, cd's e um ou dois dvd's. Com a história do iTunes, tenho comprado muito menos cd's, o que me irrita solenemente. Reconheço, contudo, que a possibilidade de comprar música a € 0,99 a peça, ainda por cima sem ter, em muitos casos, que "levar" com o cd todo, é muito apelativo.
Retomando, dizia eu que saí de lá com alguns cd's, entre os quais uma reedição de um dos primeiros discos dos The Cure, chamado "Faith". Essa reedição, como tantas outas, para além do óbvio propósito de vender mais alguns milhares de exemplares de albuns que tiveram a sua época e público, dá a este oportunidade de tomar contacto com material nunca revelado. É o que acontece com este, sendo editado um segundo cd só com músicas nunca antes editadas, feitas em estúdio algumas e ao vivo outras (com prevalência para as primeiras). Este facto permite pois, a quem gosta, de ouvir música da época (estamos, no caso, a reportar-nos ao início da década de 80) como se se tratasse de música nova. E é, de facto, brilhante. Para quem, como eu, pensa que existiram 10 anos absolutamente arrebatadores na música dos Cure (período que vai de 1979 a 1989), é fascinante ouvir, por exemplo, uma nova versão de estúdio de Primary, a qual (esta versão) considero genial a todos os títulos (interpretação, ritmo - bastante mais lento que a versão inicial editada -, instrumentos e som - com muito dub, como era então recorrente na cena da música gótica (com toda a evidente redução que uma qualificação destas tem)). Redescobrir novas coisas numa banda cujas músicas já ouvi milhares e milhares de vezes (sem qualquer exagero), conhecendo pormenores mínimos, determinados acordes, etc., é muito bom e representa uma lufada de ar fresco (ainda que esteja a falar de música com quase 30 anos!) no actual panorama musical.
Por estas razões me custa imenso ver bandas geniais, que deram contributos enormes à música internacional e que para sempre figurarão nos registos com essa importância - independentemente de uma maior ou menos notoriedade - arrastarem-se já com cinquenta e tal anos, muitas vezes atrás de novos públicos, fazendo concessões a valores com que sempre se mostraram discordantes e - hélas! - sem a qualidade que sempre se lhes reconheceu, gostasse-se ou não da música que faziam. Mas, ainda assim, mesmo com todos estes defeitos, haja a possibilidade de vê-las ao vivo e uma parte muito significativa dos antigos adoradores lá estará. Eu lá estaria.