7.5.07

Deamblogações matinais

A vitória de Nicolas Sarkozy sobre Ségolène Royal dá que pensar. Independentemente das análises feitas pelos socialistas franceses, especialmente por aqueles que divergem da estratégia levada a cabo pelo PS francês, esta vitória foi, acima de tudo, uma vitória das ideias e do concreto sobre o vazio e o abstracto.
Isso foi evidente sempre que se ouviu um e outro candidato a falar e, mais do que em qualquer outra ocasião, no debate de 4.ª feira passada. Foi surpreendente a diferença entre Sarkozy, que assumia posições, esclarecia o caminho e revelava ideias, e Ségolène que se escudava em frases feitas e conceitos vagos, do tipo "comigo os franceses sabem que podem contar" ou "eu estarei ao lado deles" (fossem "eles" quem fossem).
A ver vamos se o novo presidente da república consegue cumprir aquilo a que se comprometeu, porque, como diziam ontem alguns comentadores franceses que integram o seu staff, o sentimento é misto: para além da alegria própria da vitória, existe um sentimento de responsabilidade pelo menos tão grande, já que a estratégia assumida criou assumidas expectativas nos eleitores.
Este facto, para além da estrondosa participação dos franceses (86%), é que me parece de realçar. Não, como já ouvi hoje, a "lição democrática" do povo francês por ter participado massivamente. Se esclarecida, a abstenção é, que eu saiba, tão legítima como o voto e uma forma legítima de expressar a opinião. A questão a realçar é que os franceses - sobretudo, quanto a mim, os que votaram Sarkozy - deram o seu voto a quem lhes propôs medidas concretas e não teve medo de assumir posições nem sempre fáceis ou inócuas (contra a entrada da Turquia na UE, contra um novo referendo sobre o Tratado Constitucional europeu, contra a abertura de portas à imigração, etc.).
Por cá é isso que devia ecoar e fazer reflectir. Vejamos se os olhos e os ouvidos estiveram atentos.