Não consigo conformar-me com o que Paulo Portas anda a fazer ao CDS. Não sou do CDS e nunca votei no CDS, mas não consigo conformar-me com o facto de alguém que canta valores e uma certa atitude aos sete ventos esteja a dar cabo de um partido que é determinante na vida política portuguesa, para além de ter desempenhado um papel fundamental na implantação da democracia, nos idos de 70.
Tem-se agora visto e ouvido que o pretendente a líder anda em campanha, tal como Ribeiro e Castro, com um discurso claramente voltado para o Governo, assumindo assim o papel de verdadeiro partido de oposição, preocupado com actual estado do país e dos portugueses, com a subida dos juros e as dificuldades crescentes em honrar as dívidas contraídas. Não se lhe tem ouvido uma palavra (directa e certeira) sobre Ribeiro e Castro, porque quer dar a ideia de que agora o que interessa verdadeiramente é o país. E isso é deplorável, a todos os títulos.
Durante (poucos) anos, Portas fez o que quis que parecesse a sua travessia do deserto. Quis que parecesse porque na realidade não era. Como não foi. O que aconteceu é que ele entendeu que não podia assumir a continuidade de presidente do partido após a derrota nas legislativas e por isso saiu. Mas nunca saiu verdadeiramente, como se viu. Deixou a bancada parlamentar minar a direcção, a qual, para seu azar, não lhe era afecta. Mas durante estes (poucos) anos, esteve sempre à procura da oportunidade. E essa veio na altura em que o Governo fez dois anos de mandato e tem outros dois pela frente. Qual a melhor altura para aparecer e tentar conquistar votos?
Portas entendeu voltar quando quis, quando, aliás, verdadeiramente sempre quis, embora tenha dito vezes sem conta que não. E voltou. Sem atender a que o CDS tinha uma direcção democráticamente eleita, a meio do mandato, que, de resto, tinha por duas vezes (num espaço de tempo inusitadamente curto) ganho eleições e, assim, reforçado a sua legitimidade. Mas isso nunca lhe interessou. Usando a reduzida capacidade de comunicação e imagem de Ribeiro e Castro e de toda a direcção, voltou com arruaça e fazendo muito barulho. Lamentável, verdadeiramente deplorável, o que aconteceu na reunião do Conselho Nacional.
Ao tomar tais atitudes, como agora, ao tentar passar uma esponja neste verdadeiro golpe de estado partidário, Portas demonstra não ser um democrata e estar-se nas tintas para as decisões democraticamente tomadas. É, pois, com enorme espanto e não sem a convicção firme de que está a mentir, quando o oiço dizer que respeitará a vontade dos militantes do CDS, seja qual for a decisão que tomarem no dia das eleições.
O País tem assistido a um espectáculo miserável com a história do currículo universitário do Primeiro Ministro. No entanto, não menos miserável é este triste espectáculo. A provar que, mais ou menos inteligentes, mais ou menos "formados superiormente", com mais ou menos cultura, de quem não precisamos é deste género de homens e mulheres que nunca fizeram nada para além de uma vida inteiramente dedicada à política. Tudo por causa dela e tudo em função dela. A páginas tantas vale tudo. Tanto alterar um registo para incluir ou apagar a palavra licenciado, como desrespeitar vilmente o voto legítimo dos militantes partidários.