15.3.16

Deamblogações vespertinas


(com sotaque português do Brasil)
Esse cara aí, esse cara com essa cara de ladrão capturado e botado em carro celular, é o Lula da Silva, o comunista; o defensor dos oprimidos; o amigo de Chávez; o que diz ter contribuído para retirar milhões de brasileiros da pobreza mais básica dando-lhes uma casa, ainda que de madeira ou tabique e sem saneamento; o que se insurgiu vezes sem conta contra os sem-vergonha pertencentes à classe política brasileira, desde Collor a Fernando Henrique Cardoso, tudo varrendo para debaixo do mesmo tapete; o que dizia que a economia brasileira ia crescer sem parar tornando o Brasil num dos países mais importantes do mundo; o que queria que todos os corruptos acabassem apodrecendo na prisão, mesmo (e talvez por isso) que essas prisões se encontrassem mais lotadas do que os barcos que chegam à Europa vindos do Oriente Médio; o cara que não tinha tempo para caras desavergonhados porque tinha um país para dirigir e salvar.
É isso aí. Tudo isso este cara fez ou disse.
(com sotaque português de Portugal)
É o mesmo tipo que agora está prestes a aceitar ir para o Governo, supostamente para voltar a pôr o Brasil no trilho do crescimento económico ao mesmo tempo que melhora a coordenação política do Governo federal. Por acaso, estás prestes a aceitar um convite que lhe foi feito dias depois de ter sido detido para interrogatório e de se dizer que poderia ser preso preventivamente pelo juiz que comanda a investigação do mega-caso de corrupção ligado à Petrobras. Ora, caso aceite esse benigno convite, naturalmente dado o carácter voluntarista que sempre demonstrou no exercício de cargos políticos, sucede que ganha a imunidade que o impede de ser detido, conforme se falava que ia acontecer. Realmente, há acasos que dão um jeito bestial.
Este homem, que passou uma vida a acusar os sem-vergonha, caso seja efectivamente corrupto, é o maior deles todos. O maior mentiroso, o maior escroque. Seja ou não culpado, de uma coisa não se livrará: do oportunismo que demonstrou, sem hesitações ou arrependimentos, numa demonstração clara de que os políticos brasileiros não brincam na hora da verdade.
Deus tem mesmo de ser brasileiro para aquilo não rebentar de vez.