7.4.15

Deamblogações nocturnas

Afonso Reis Cabral é um escritor, recentemente vencedor do prémio LeYa. Não li nem vou ler o livro com que ganhou tal prémio. Cruzo-me com ele, sem que ele o saiba, ali no jardim das Amoreiras, com alguma frequência. Vi-o por diversas vezes a rever textos, tanto quanto sei, aquilo que faz profissionalmente, para além de escrever.
Tudo isto e mais uma coisa: Afonso Reis Cabral tem 25 anos. Nasceu em 1990. Nada tenho contra isto, com excepção de alguma inveja. 25 anos já foi há muito tempo, tempo de mais...
Há umas semanas percebi que o escritor havia sido contratado (?) para colunista do Observador, o que me deixou algo curioso quanto àquilo sobre que se proporia escrever. De ilustre desconhecido a colunista de um jornal on-line, depois de ter ganho um prémio literário, discutível como qualquer prémio. Talvez, até, apenas por causa disso. Embora desconheça os meandros da contratação, aposto, aliás, que existe uma relação entre um facto e outro. Mas até aqui tudo bem. O que estranhei foi ver o escritor escolhido de entre uma panóplia de outras personagens, todas elas, no mínimo, com o dobro da sua idade - Daniel Bessa, António Filipe Pimentel, Emílio Rui Vilar - para fazer uma avaliação sobre o país e os candidatos presidenciais. Está aqui.
Primeiro: não tenho absolutamente nada contra Afonso Reis Cabral. Segundo: não acho que a imaturidade natural de uma pessoa com 25 anos deva, por si só, ser um impedimento para intervenções de qualquer espécie e sob qualquer forma. O que a mim me aflige de certa forma é a rapidez com que hoje em dia tudo isto acontece. Alguém a quem há menos de um ano não se conhecia uma ideia, nem tão pouco uma linha de escrita, aparece lado-a-lado com pessoas que têm anos de vida e experiência (muita dela pública), a dar opiniões sobre temas consabidamente complexos e que, pela sua própria natureza, exigem a maturidade que Afonso Reis Cabral não tem, nem podia ter.
Poder-se-á dizer que interessa ao público saber o que alguém com 25 anos pensa do país e dos proto-candidatos a PR, entre outros temas deste tipo. Mas interessará mesmo? Pergunto se é possível que alguém com essa idade possa produzir uma reflexão com a mínima substância sobre o Estado Social, as características de um PR para o nosso país e o posicionamento dos partidos políticas em face dos candidatos que têm paulatinamente vindo a aparecer. Penso mesmo que não é possível e é natural que o não seja.
Hoje em dia produzem-se estrelas com a mesma facilidade com que desaparecem. O Afonso Reis Cabral não tem culpa nenhuma e, de resto, desejo francamente que esteja à altura do que lhe pedem. O problema é a máquina tal como está montada. O caminho entre o desconhecimento e o (pseudo?) estrelato é curto de mais, assim como inexistente a densidade de grande parte dos comentaristas que há anos polulam o nosso espaço público.
A mim, independentemente da pessoa, não deixa de me espantar este facto.