20.3.15

Deamblogações vespertinas

Ter uma lista com os contribuintes VIP (só o nome...), é, está-se mesmo a ver, ter tudo preparado para os tratar como tal sempre que isso fosse preciso.
Não sei se alguém acreditará que uma lista dessas em Portugal - não podemos esquecer-nos que vivemos em Portugal - não se destina a proteger esses cidadãos da espreita alheia. É que é mais forte do que nós, está-nos na massa do sangue. Uma lista desse tipo só serve para prestar favores. Haveria ou haverá sempre alguém que é comprado por tuta e meia para fazer um favorzinho, perdoar uma coimazinha, proceder a um arquivozinho, esquecer-se de um processo para que ocorra uma prescriçãozinha e assim por diante.
Só isso, como se fosse pouco, justificaria a insolência de tentar convencer alguém a aceitar este tipo de lista, mas não é só isso. É ultrajante pensar em contribuintes de 1.ª e de 2.ª. Os primeiros estão a descoberto da curiosidade alheia e gozam de um tratamento very important people, assim fazendo jus ao estatuto que têm a veleidade de se auto-reclamar, mas já os outros levam com custas de 300 euros por se terem esquecido do pagamento de um IUC de 20...
Este país que, nestes casos, é um país de chico-espertos de oitava categoria, adora criar este tipo de privilégios, de pequenos poderes para aqueles que detêm, já de si, um poder imenso, que é o poder de aplicar ou mandar aplicar coimas, beneficiando de uma inversão do ónus da prova e da regra de que se paga primeiro e se discute depois. Este poder é realmente imenso e totalmente contrário do que deveria acontecer num Estado de direito democrático, em que os direitos mais elementares dos cidadãos são respeitados e o Estado é uma pessoa de bem que não se crê acima de ninguém.
Mas é precisamente porque nada disto é verdade que se sente a necessidade de serem criadas listas VIP e outros quejandos, dessa forma estendendo a alguns um tratamento diferente daquele que é dado a todos os restantes. O problema é que, à laia de se tratarem bem uns quantos, criam-se situações de absoluta ilegalidade e falta de transparência que não podem ser admitidas.
Listas VIP só à porta de discotecas, e mesmo assim...