19.9.14
O referendo na Escócia ou a vitória da democracia
Confesso a minha comoção pelo processo de referendo escocês. Numa altura em que os povos andam completamente alheados da vida política e, sobretudo, das decisões políticas, em que demonstram estar-se nas tintas para o que vai acontecendo, em que todos os dias aprofundam a dicotomia "nós-eles", sendo "eles" todos os que mandam e decidem por "nós", os escoceses deram uma verdadeira lição ao mundo civilizado.
A campanha foi brutal, não só em termos de tempo (durou 2 anos!), como de argumentário, sempre em crescendo até ao fim, e o fim foi mesmo o fim, ou seja, escassas 24 horas antes da data marcada.
Durante o dia de ontem a ansiedade, embora algo disfarçada, era evidente e nenhum dos apoiantes de qualquer dos lados queria mostrar o que estava a sentir, talvez confiando ou talvez desconfiando do resultado final, que, ao longo das semanas, foi variando de sentido.
E tudo culminou com a vitória do NÃO, com enorme orgulho do lado de quem venceu e igual orgulho do lado de quem perdeu e é mesmo essa a principal lição: todos participaram em nome daquilo que acreditam foi ou seria a melhor solução para o povo escocês, independentemente dos argumentos mais ou menos bélicos e terroristas que sempre se usam neste tipo de acontecimentos. Hoje vi e ouvi muitos adeptos do SIM felicitarem o lado do NÃO, e ouvi mesmo um alto responsável do SIM e simultaneamente MP dizer que chegou a vacilar quando ouviu o discurso de Gordon Brown de há 3 dias, no que é uma demonstração cabal do carácter profundamente democrático que esteve sempre presente como pano de fundo deste acto.
Por outro lado, o alargamento do voto aos jovens de 16 e 17 anos mostra como os responsáveis pela consulta quiseram que a mesma fosse vivida e partilhada pelo maior número possível de escoceses, o que fez indubitavelmente com que se atingisse uma taxa de participação de uns incríveis 85%, dando assim uma estalada às taxas hoje em dia habituais de 40% para cima que se vive em todos os países, Reino Unido incluído.
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