28.8.14

Deamblogações nocturnas

Não são oito da manhã e cá fora a vida começa lentamente. Ouve-se e sente-se a natureza tal como ela é. Pássaros chilreiam, abelhas iniciam a busca incessante de néctar, melgas e moscas vão passando por cima da cabeça. De quando em quando, o pio de uma coruja tardia.
Estou sentado com um incenso a queimar que vai rodando à mercê do vento. Ao longe, muito ao longe, um ou outro carro.
Deixo vir o que há para vir, nem sempre coisas boas ou fáceis. Vêm e vão, algumas delas regressando recorrentemente. Noto que há assuntos que me apoquentam o espírito, mas também noto que a força da realidade é mais forte do que o desejo de controlo e isso é muito apaziguador. Sinto um torpor crescente, coisa rara nas meditações matinais, que tem que ver com as relativas poucas horas de sono. Entro num estado de semi-consciência e quase que adormeço. Também isso é bem recebido, mesmo quando sei que meditar não é sinónimo de dormir. Mas estou como estou e isso não é possível mudar.
A aceitação da realidade deve ser radical, sendo a única forma de fazer as pazes com o que a vida nos reserva. Abro os olhos ao fim de um tempo de conexão profunda e sinto-me agradecido a mim mesmo por,  não sem relutância, ir aceitando os desafios da vida com uma atitude crescentemente compassiva.
Que estejamos bem, que sejamos felizes, que vivamos em paz e harmonia uns com os outros. Parece simples e é, mas nós complicamos sempre.