Nas últimas duas semanas, tive conhecimento de factos que me deixaram, uma vez mais, completamente descrente na honestidade intelectual (e talvez mais do que isso...) de quem nos governa, fazendo com que acredite cada vez menos nas suas verdadeiras intenções. Talvez não seja o país que interessa, afinal de contas, mas sim outras coisas de mim, de nós desconhecidas.Tem tudo a ver com a remodelação de algumas secretarias de Estado. Eu soube que a saída do ex-secretário de Estado Paulo Júlio está directamente relacionada com a maçonaria (pelo facto de o ex-governante pretender, através da reorganização administrativa, extinguir uma entidade pública liderada por um maçon), assim como soube que, ao contrário do que o primeiro-ministro disse e veio veiculado nos órgãos de comunicação social, houve pelo menos dois secretários de Estado (dos cinco que saíram, para além do acima referido) que tomaram conhecimento de que iam sair pelos telejornais da televisão. Também me constou que o ministro da Economia, ao contrário do que veio dizer ontem em entrevista que pareceu encomendada, não foi tido nem achado no assunto, embora pelo menos dois dos secretários de Estado que saíram tenham sido escolhas pessoais do próprio, o que não deixa de ser, no mínimo, estranho. A ser verdade (e penso que seja), isso revela muito pouco peso político e muito pouca influência no Governo por parte do ministro da Economia. Por outro lado, revela que ele se presta a qualquer serviço, mesmo que isso ponha directamente em causa pessoas das sua confiança pessoal.
Mas mais: isto é também revelador que Portugal tem um primeiro-ministro mentiroso, que faz afirmações que sabe não serem reais (neste caso, foi de que haveriam algumas alterações pontuais "decididas pelos senhores ministros").
Eu não estou em condições de discutir a bondade destas alterações. Possivelmente, os novos secretários de Estado são mais adequados à função do que os anteriores, tendo sobretudo em conta o que já passou desta acção governativa e o que ainda está para vir. Mas, francamente, isso é outra discussão. O que está em causa é o que se encontra por detrás das opções tomadas, da falta de coragem política e pessoal de assumir tais opções.
Que superior interesse nacional justificará que não se avise primeiro as pessoas que irão ser substituídas e que se minta em frente das câmaras de televisão, sabendo que o que se está a dizer não passa de uma mentira?
É porque se não for uma mentira, é ainda pior: significa que nem o primeiro-ministro sabe o que está a acontecer no Governo que ele próprio escolheu. Ora, isso seria catastrófico e eu não quero sequer considerar essa hipótese...