1.3.08

Os "nossos" CTT



Aconteceu-me ontem nos CTT (estação da Av. Igreja):

Quero fazer reexpedição de correspondência.

Preencheu os papéis?

Sim, minha senhora aqui os tem (dou impressos obtidos via Net).

Esta gente toda?

Sim, porque está aí para além de mim e da minha mulher, a minha Mãe, já falecida, e o meu filho mais velho.

Tem tudo que assinar.

E eu com ar de espanto: desculpe? Ó minha senhora, eu e a minha mulher, está bem, mas repare que nos outros casos não é possível: a minha Mãe porque já faleceu e o meu filho porque só tem 5 anos.

Não, não. Tem tudo que assinar. ( e continua) Olhe, para já não é possível reexpedir correspondência dos mortos (sic), depois, quanto ao seu filho, diz para ele pôr a impressão digital.

(aí, perdi a paciência e alguma compostura) Desculpe-me, minha senhora? A senhora tem a mínima noção do que está a dizer? Tem a noção ou não tem? Primeiro é possível sim senhora a reexpedição de correspondência de pessoas falecidas, porque eu próprio utilizei esse serviço durante cerca de um ano, depois, acha que vou dizer ao meu filho mais velho para pôr o dedo aqui neste papel?!? É que não tenha dúvidas que não vou!

(diz-me ela, sem perder o perfil de incompetente) Só um momento que vou falar com a chefe da estação.

(passados 2 mn) Olhe, ainda é pior do que lhe disse da primeira vez: não só não pode reexpedir correios dos mortos (sic), como do seu filho também não.

(eu) Chame a chefe da estação.

(ela) Só um momento.

Chega a dita com ar empertigado: Diga, sff.

(eu) Ó minha senhora, pode dizer-me como é que esta senhora funcionária me está a dar uma informação comprovadamente errada quanto à reexpedição de correspondência de pessoas falecidas?

(ataca ela logo) Sim senhor! Isso é impossível! As pessoas não percebem que os Correios fazem isto para protecção dos interesses das pessoas!

(eu) Ai é? Então a defesa desses interesses significa, de acordo com o que me estão a dizer, que as pessoas que falecem não podem deixar ninguém… (hesitei) vivo, porque esses não podem receber directamente qualquer correspondência, é isso? Então isso também significa que o que os mesmos Correios me fizeram há um ano e tal está errado, é isso?

(ela) É isso mesmo. (!!!!)

(eu) Olhe, minha senhora, não vou entrar nesse plano de discussão, porque é demasiado ridículo. Apenas lhe digo que se se enganaram, enganaram-se bem! Bom dia.


(cerca de uma hora depois, na Loja do Cidadão). Tratam-me com competência e simpatia (decidi entretanto eliminar o nome de minha Mãe) No fim, pergunto: Olhe minha senhora, só por curiosidade: é possível a reexpedição de correio de pessoas falecidas?

Resposta pronta: claro que sim, desde que junte cópia simples da habilitação de herdeiros.

(eu) Muito obrigado pela informação.

(ela) Com muito gosto.

É a isto que estamos condenados. À (má) vontade de uns e à boa de outros. Não há regras, se as há ninguém as conhece, quem devia mandar não manda, pelo que o sentimento de impunidade e indiferença é total.

Eu, como milhares de outras pessoas todos os dias, estive ali a ver um bando de incompetentes fazer tudo menos aquilo que devia: desempenhar a sua actividade de forma profissional e educada. Em suma, competente (que é termo que nem devem conhecer).

Pelo contrário, dizem o que lhes passa pela cabeça, como a de pôr a impressão digital do meu filho mais velho. Para quê? É que se se parar para pensar durante um minuto, percebe-se o ridículo da questão: ele nem sequer tem documentos com esse tipo de identificação (como, de resto, nem é suposto ter), pelo que para quê exigir tal coisa? Mas foi assim como podia ter sido diferente. E ontem foi nos CTT, como amanhã poderá ser noutro serviço público qualquer. À mercê das boas ou más vontades dos senhores que nos atendem. É este e não outro o nosso país. É a bicharada.