22.2.08

Deamblogações matinais


Num documento agora divulgado, a Sedes vem chamar a atenção para o que chama de “mal estar difuso” existente em Portugal.
Penso que toda a gente – melhor ou pior informada, com ou sem interesse na matéria – devia lê-lo.
Independentemente de se estar de acordo ou não com tudo o que lá vem, é (mais) um sinal preocupante do estado do país e uma evidência de que este sentimento não é coisa de alguns mais pessimistas (JPP, VPV, etc.) que têm espaço público e o utilizam para expressar as suas opiniões.
O documento da Sedes toca em alguns pontos-chave, como, por exemplo, o divórcio entre a classe política (políticos e partidos) e os cidadãos ou a degradação do sistema de justiça. Se bem atentarmos na importância destes dois exemplos, veremos que eles são em si mesmo dois dos principais pilares da democracia e de qualquer Estado de Direito. Existirá algum sem um sistema judiciário forte? Existirá algum sem um sistema partidário forte, no sentido de transparente, vivo e pluralista?
A resposta é não.
Ora, esta tomada de posição da Sedes vem chamar a atenção para tais factos. Julgo que apenas peca por não chamar a atenção – em minha opinião, suficientemente – para o poder-dever dos cidadãos responsáveis em contribuir para ir alterando este sentimento de degradação que se vai vivendo. A questão é complicada. Por exemplo, relativamente ao sistema de justiça, não dou por certo que os tribunais sejam no dia a dia permeáveis a interesses ou a jogos de poder. Uma coisa é a demora processual (obviamente péssima do ponto de vista da distribuição da justiça, mas que não põe em causa a própria justiça), outra, bem diferente é a permeabilidade dos tribunais (e, concretamente, dos juízes, a interesses mais ou menos difusos). Insisto, não me parece que isso exista. Porém, é indubitável que se criou na opinião pública o sentimento contrário, e isso – como se demonstra pela famosa teoria da má moeda afastar a boa – pode contaminar de tal forma as coisas que, mesmo não sendo verdade, é como se fosse. Penso que é o que tem sucedido.
Ora, perante isto, todos nós temos o dever de agir. O dever de tentar, em cada uma das nossas áreas, demonstrar que não é assim, que continua a existir “boa moeda” e que a sua permanência não está em perigo pela coexistência com a má. Mas isso só se consegue com uma intervenção activa e a consequente assunção de que o bem comum não é coisa dos outros. Não chega votar de tempos em tempos. Até porque esse voto tem sido um voto cada vez mais de protesto e não de uma verdadeira escolha, o que evidencia o mal estar de que se fala. A construção tem que se fazer no dia a dia e não, com irritação e frustração, no momento eleitoral.
Relembro a frase de Thomas Carlyle que encabeça o Peremptório “De nada serve ao homem queixar-se dos tempos em que vive. A única coisa boa que pode fazer é tentar melhorá-los.”. Mãos à obra?