23.10.07

Deamblogações matinais

O que a mim me choca nesta questão das relações mais ou menos promíscuas entre o bcp e os seus accionistas não é a questão do empréstimo do banco ao filho de um dos fundadores que mais tarde foi perdoado por alegada incobrabilidade.
Não conheço a situação, não consigo, por isso, aferir da legalidade ou ilegalidade do acto. Por outro lado, parece-me que isso é, em última análise, uma questão que apenas diz respeito aos accionistas do banco - porque são esses que têm a ganhar ou a perder - e não à opinião pública. A esta pode interessar só por uma questão de arruaça.
Mas o que verdadeiramente me choca como espectador destas tristes cenas a que se tem assistido no último ano no bcp é a atitude de Jardim Gonçalves. Sempre achei que, independentemente da sua capacidade de gestão (que é inegável), o que estava em causa era a perpetuação no poder, o que é necessariamente mau para qualquer instituição, para além de o ser para o próprio. No entanto, se isso em si já era mau, pior se tornou com a notícia de que o mesmo tinha assumido a dívida do filho à instituição. Não é isso senão assumir que o que fez estava errado (quando já tinha proferido declarações afirmando que desconhecia do que se tratava)? Mais: durante a tarde de ontem corria a notícia de que Jardim Gonçalves, na sequência daquela assunção, abandonaria todos os cargos que detém no bcp. Pensei que faria sentido que assim fosse. Afinal, encurralado pelas notíciasdos últimos dias, havia finalmente ganho alguma vergonha e feito o que já devia há muito. Mas não, afinal enganei-me e enganou-se quem assim pensou. O que aconteceu foi o pior de dois mundos: não só ele assumiu a dívida do filho, como manteve intactos os seus cargos no bcp, continuando tudo como estava antes.
De facto, cada tiro cada melro. Como dizia Miguel Sousa Tavares na última edição do Expresso, foram trinta anos a construir uma imagem e um ano para a arrasar. O que mais faltará?