A Ministra da Educação assumiu ontem, pelo menos em entrevista dada às televisões no Parlamento, que a decisão do caso Charrua foi de carácter político.
Não sei o que a ministra quererá dizer com isto: se o critério que esteve por detrás do processo disciplinar instaurado àquele professor foi de natureza política, motivado pelo facto de ter dito uma piada de mau gosto contra o primeiro ministro ou se a decisão propriamente dita de suspensão é que teve uma motivação política. São, obviamente, coisas distintas. Do meu ponto de vista, o primeiro é mais grave do que o segundo, embora este seja igualmente criticável.
De qualquer forma, o que me parece é que se tem misturado a moita com a mata. É verdade que existem neste Governo laivos de autoritarismo exacerbado. É verdade que existem neste Governo - como em nenhum outro - traços visíveis de arrogância e intolerância para quem com ele discorde. No entanto, se isso é verdade, não menos verdade é que um funcionário público tem um dever de lealdade para com as suas chefias, em última análise, para com o chefe do Governo. Admito como discutível que esse dever acompanhe os funcionários públicos para fora dos seus locais de trabalho. Mas não tenho quaisquer dúvidas que se mantém enquanto neles estiverem. Mutatis mutandis é como qualquer trabalhador de uma empresa que diz mal da sua hierarquia no local de trabalho ou num qualquer local público perto do primeiro. Pode (e deve) ser objecto de um processo disciplinar com vista à aplicação de uma sanção disciplinar.
Se tudo isto é assim, torna-se lamentável que o Governo não tenha tido a coragem de o assumir , enfiando os pés pelas mãos, com medo da linguagem politicamente incorrecta do dever que existe (e oxalá se vá mantendo) de respeito pelos órgãos hierárquicos dentro de uma qualquer organização.