Tem razão Pacheco Pareira ao referir que a comunicação social criou aos candidatos a (impossível) necessidade de tudo saber e tudo dominar para criar no espírito dos eleitores a ideia (?) de que são fiáveis e detentores de uma solução para a cidade.
É indesmentível que cada vez mais é menos admissível erros do tipo do cometido por Fernando Negrão ao trocar as siglas da EPUL, EPAL e outras quejandas. De facto, isso em si mesmo não representada nada, nem quer dizer que o candidato não esteja preparado para assumir o governo da capital.
Todavia, não podemos confundir essas pseudo-necessidades paranóicas que só fazem com que cada vez seja menos atractivo ser político, com a competência e o rigor, esses sim necessários a quem governa.
Ora, não me lembro de uma eleições tão desmotivadoras. Desmotivadoras para quem concorre e para quem elege. Até desmotivadoras para quem noticia. Vi e ouvi diversos bons jornalistas (ainda os há!) nestes últimos tempos a referirem-se aos períodos da pré-campanha e da campanha como maçadores e desmotivantes. Pasme-se!
Ao pensar nos motivos que poderão estar por detrás disto, ocorreu-me que os candidatos a estas intercalares - algumas excepções feitas - não estão demasiado preocupados com estas eleições, mas sim com o que elas potenciam, ou seja, as próximas eleições e, consequentemente, os quatro anos seguintes de governo municipal, esses sim atractivos.
Agora é só dever de função. Não uma verdadeira vontade de começar a pôr as contas da cidade na ordem, de inventariar o défice, de reduzir a despesa, de equacionar a eventual concessão de alguns serviços camarários. Também não me parece que exista vontade para pensar em chamar pessoas à cidade, reabilitando pequenas coisas (como passeios e parques) e pensando em animação cultural (espectáculos ao ar livros, iniciativas desportivas e culturais) que atraísse a gente que não se importa (e até agradece) de não ir à praia, que não gosta de filas de trânsito e de pessoas e que, ao invés, gosta de viver a cidade com mais tempo e maior tranquilidade.
Referi que existem excepções entre os candidatos. Helena Roseta parece-me a mais próxima dos problemas diários da cidade. Não creio que desse uma boa presidente de câmara - é demasiado utópica e naïve, sem a força política necessária -, mas penso que as suas ideias fazem falta ao quotidiano dos lisboetas. Por outro lado, essa mesma utopia que faria com que, na minha perspectiva, não devesse assumir a liderança do executivo camarário, faz com que deva ser ouvida no processo decisório. Porque aquela mesma naïveté é necessária numa altura em que os lisboetas perderam fulgor e interesse na sua cidade.
Não me lembro de uma eleições em que o papel dos partidos se esbatesse tanto. Pessoalmente estou-me nas tintas se Helena Roseta era do PS até há pouco tempo - partido em que nunca votei nem penso votar. Aliás, essa é outra razão pela qual a considero uma boa candidata: não tem o aparelho partidário por trás a dar dinheiro, mas também não tem imposições de estratégia, nem de pessoas, nem de assuntos. Enfim, o que por um lado é mau, por outro é bom.
Nota final para Manuel Monteiro. É absolutamente deprimente ver um político que sempre fez da elevação do debate uma das suas bandeiras (delaração de interesses: nunca votei nele e com ele discordo em muitas coisas), dependente de uma campanha sem ideias (não se pode dizer que acabar com as empresas municipais seja uma ideia, pelo menos, séria!) e construída à base de uma personagem boçal, que apenas transmite a ideia de que os partidos políticos são todos iguais e vivem à custa de lugares e compadrios. Independemente de ser essa a visão de grande parte das pessoas - e mais do que visão, ser parte da realidade - não é admissível que alguém com responsabilidade - nem que seja apenas por ter tempo de antena - pugne por tal caminho. É triste, confrangedor e só lhe poderá trazer dissabores. Ao contrário do que ele pensa (pensará?) não acontecerá com o PND o que aconteceu ao Bloco. Bem o pode escrever.
Entretanto, torçamos para que Costa não ganhe com maioria. Isso sim, seria perigoso.