Mais uma vez concordo com Pacheco Pereira e com a análise que fez na Quadratura do Círculo acerca das intenções do Governo - e em especial do ministro Mário Lino - relativamente ao aeroporto. Aí disse que das duas uma: ou haveria má fé por parte do ministro ou ele devia demitir-se.
Para quem, como o ministro, defendeu à outrance a Ota, como se mais nada houvesse para além dela como possibilidade técnico-política, como se a alternativa fosse Portugal deixar de ter um aeroporto a médio/ longo prazo, vir agora, encenadamente, dizer que aceitou um estudo e que nomeou uma comissão técnica para o analisar, é realmente ou estar com reserva mental ou dar um gigantesco passo atrás, que, no caso, só poderia significar a sua saída.
Alguém acredita verdadeiramente que o Governo (e principalmente este ministro) vai analisar objectivamente este estudo? Por outro lado, que estudo é este? Acho estranho que num projecto desta envergadura - a maior obra pública jamais feita em Portugal - possa aparecer uma associação patronal a apresentar um estudo financiado por alguns empresários cujos nomes são hoje divulgados pelo Diário Económico, dispondo-se o Governo a analisá-lo como se de uma hipótese se tratasse.
Isto acontece depois de o mesmo Governo - não outro, mas o mesmo, repete-se - ter apresentado a Ota com pompa e circunstância, a ter defendido com unhas e dentes, ignorando comentadores, opiniões técnicas, estudos, etc., entretanto apresentados contra o projecto. Porquê agora vir aceitar este estudo?
Penso que existem duas opções que, de resto, me parecem mais ou menos evidentes: ou a pressão feita pelo Presidente da República surtiu efeito ou Sócrates decidiu estagnar o processo de avanço da Ota para amainar os ânimos que nas últimas semanas se têm feito sentir com cada vez maior intensidade.
No entanto, seja qual for a opção, subsiste a convicção de que existirá sempre reserva mental - no caso, chama-se má fé - por parte do Governo, tendo o mesmo apenas querido atirar poeira para os olhos dos portugueses e, eventualmente, do próprio PR.
Mais 6 meses de paragem e de consequente atraso. Estou curioso para saber se surgirá mais algum estudo no decurso deste tempo e, em caso afirmativo, qual a reacção do Governo.