
Há dias vi uma entrevista de Paulo Teixeira Pinto a Ana Loureunço na SIC-N. Uma excelente entrevista, na qual PTP falou com uma descontracção e desprendimento que, penso, a maior parte das pessoas não lhe reconhecia. Falou do BCP (pouco e com reserva), falou de si, bem como - e sobretudo - dos seus novos interesses: a Guimarães Editores, a pintura e a poesia.
E foi extraordinário ver como o homem, que eu sem a mais pequena hesitação qualificaria como a personagem mais petrificada do panorama empresarial português, se deixou levar por essas paixões - porque de paixões se trata - e descreveu como as mesmas integram a sua vida. No meio de tudo isso, deu uma lição de humildade. Sendo verdade que a sua situação financeira lhe permitirá falar com a humildade (verdadeira ou falsa) que bem entender, dando-a e vendendo-a a quem quiser, não transpareceu que o fizesse pairando acima do comum dos mortais.
Nos dias seguintes à entrevista, dei por mim por diversas vezes a pensar que as pessoas têm de facto diversas vidas, correspondentes a diversas facetas que se completmentam e fazem o todo que é cada ser humano. PTP falou num poliedro com diversas faces, sendo que cada um de nós apenas consegue ver uma face do outro de cada vez, tomando-a erradamente pelo conjunto. Nessa sua imagem, não seria por isso estranho que as pessoas nunca tivessem imaginado que aquela parda figura pudesse ser poeta e pintor. É verdade. A interioridade de cada um de nós é, talvez na maior parte das vezes, escondida dos outros ou apenas revelada em parte ou apenas revelada a alguns, consoante as circunstâncias e momentos. Por isso julgo cada vez mais que é difícil e injusto julgar as pessoas "num contexto". Porque, por definição, elas são mais do que esse contexto.
Ver a sisudez de PTP durante os tempos em que era porta-voz do Governo ou Secretário de Estado da PCM e, mais ainda, quando desempenhava funções como Presidente do CA do BCP, e tomar essa sisudez por uma característica que por certo definiria por completo o carácter da pessoa revelou-se profundamente errado. Acho extraordinária essa descoberta, sobretudo quando incide sobre alguém que se revela sem alarido e publicidade. E mais: com humildade e simplicidade.
Revelador.