
A reeleição de Silvio Berlusconi em Itália vem lembrar uma questão para a qual Maria João Avillez, em contexto diferente, chamava a atenção há dois dias atrás na SIC-N: o problema da durabilidade de alguns políticos.
De facto, a tónica não está na durabilidade propriamente dita. Veja-se o caso, já mundialmente célebre (porque eleito democraticamente) de Alberto João Jardim, que há 30 e tal anos governa a Madeira a seu bel-prazer. A durabilidade em si mesma não é nem negativa nem positiva, é antes um facto em muitos casos.
A questão é outra e tem que ver com algumas figuras públicas do mundo político que, ora ganhando, ora perdendo eleições, não são capazes de se afastar.
Nesse campo, e salvas todas as diferenças que são muitas, Berlusconi está para Itália, como Portas ou Santana para Portugal. No actual espectro político português, já se disse que não parece haver quaisquer indícios de renovação, as pessoas são sempre as mesmas, existindo ruidosamente em alturas de poder e subsistindo também ruidosamente em alturas de oposição. É confrangedor.
Dizia Maria João Avillez na SIC-N que não se vê em mais nenhum país civilizado um ex-primeiro-ministro ser deputado. Não sei se é verdade, mas francamente também não me parece que esteja aí o problema. Até se podia considerar humildade democrática passar de chefe de Governo a simples deputado, sem que caíssem os parentes na lama. Mas infelizmente não é isso que sobressai. Pelo contrário, é visível que o que faz esta gente perdurar nestas andanças é a simples necessidade de sobrevivência: não sabem fazer outra coisa. Estão habituados ao poder ou às margens do mesmo, alimentando-se (umas vezes mais, outras menos, mas de forma contínua) do que o poder dá. É assim, sem dúvida, com Santana e Portas, mas também com muitos outros políticos profissionais, com Menezes e Sócrates a (co-)encabeçar a troupe, embora longe de serem os únicos ou até talvez os mais importantes.
A falta de renovação da vida político-partidária está a dar cabo da democracia. Não sei qual a esperança do povo italiano em Berlusconi, ele que é tido (justamente!) como um dos expoentes do caciquismo, populismo e outros "ismos" de idêntico sentido. Penso que daqui por um tempo estarão mergulhados em novos escândalos e consequentes e inevitáveis eleições. A meio, Berlusconi terá ido embora porque não conseguiu aguentar o Governo. Onde é que já se viu isto?...
Em Portugal, Sócrates bate palmas de contente pela oposição que (não) tem. Eu também bateria. A questão - pelo menos a colocada pelos habituais comentadores - parece ser a da possibilidade ou não de alcance da maioria absoluta. Eu penso que nem isso se coloca verdadeiramente. Quando os portugueses forem chamados a votar, aqueles que lá irão (a taxa de abstenção será certamente a maior de sempre) pensarão se devem deixar que um bando de irresponsáveis paralize um Estado, tornando-o ainda mais ineficaz e terceiro-mundista do que já é.
É, de facto, para pensar dez, vinte, cem vezes.
Assim sendo, bienvenutto Sr. Berlusconi. Para quando mais um arriverdeci?