
Fechou um dos poucos bons cinemas de Lisboa. Não era central, não tinha bom som, não tinha boas telas e ouvia-se o som da sala do lado. Mais: o bar, explorado por um inenarrável senhor de bigode, era talvez o mais caro da cidade para sítios do género.
Mas apesar disso tudo, era um sítio excepcional. Pelos filmes que lá passavam, pelo público que lá ia e pelo ambiente que lá se vivia.
O Quarteto é a prova de que não é preciso existirem cinemas XPTO, com multi-não-sei-quê e som surround dolby pro-logic II, cadeiras ultra-confortáveis que mais parecem sofás da sala, etc., etc., para se ir ao cinema. Afinal, pode-se ir ao cinema por uma multitude de razões, mas, há-de convir-se, o principal é o filme! Vi lá centenas de filmes e confesso que vi lá filmes que não devia ter lá visto (os últimos Star Wars e mais uma mão cheia de filmes do género, claramente para serem vistos com o tal surround etc. e tal). Mas mesmo assim ia lá 95% das vezes que ia ao cinema, porque aquele era o sítio onde não havia confusão de filas, malta javarda a beber e a arrotar coca-cola, e a comer sacos intermináveis de pipocas (com o som que aquilo tinha então aí é que deixava de ouvir-se o filme...), teenagers enamorados aos beijos nas salas, e outros mimos desses que pululam nos multiplexes modernos, cheios de extravagâncias para se ver cinema (por exemplo, lugares PRIME que custam 15 euros e até servem whisky), quando o que se quer é... apenas ver cinema!
Por tudo isto e mais um punhado de coisas, é lamentável que nos tenham fechado o Quarteto. Deixem-me correr o risco de me queimar e talvez até quem sabe, de morrer incinerado, se aquilo arder tudo, deixem-me ter que transportar um deficiente às costas se for caso disso, deixem que tentemos fazer uma colecta pública para tentar pagar as dívidas existentes. Mais uma vez, o "espírito asaesco" tomou conta disto e, não vai de modas, fechou o local. Sem apelo nem agravo.
Agora vai-se lendo nas notícias que a CML equaciona atribuir ao espaço a qualidade de local de interesse cultural, no sentido de preservar o fim a que, desde 1975, o mesmo se destina. Mas, para além de parecerem uns meros espasmos soltos e inconsequentes, quem me jura a mim que não nascerá um cinema fabuloso, todo novinho em folha, em que o que interessa é passar blockbusters?...